domingo, 10 de dezembro de 2017

Matriz coração! ‘En-a-morada!’

Gosto de samba, gosto da Marrom (a Alcione)! Dia desses, o refrão de uma canção que ela canta me ‘brotou por dentro’ e eu fui atrás da música! Coração de Porcelana! E eu fiquei refletindo sobre a ideia... coração de porcelana! Durante muito tempo, eu mesma pensei que meu coração fosse de porcelana, delicado, frágil, fácil de quebrar. Pra minha alegria, a vida me ensinou que meu coração está bem longe de ser porcelana! É um coração grande e forte! Coração composto de fibra italiana com densos entrelaçamentos de amorosidade e brotações constantes, de mais e mais amor, mas isso não tem nada de fragilidade e tampouco representa risco de se (me) quebrar!

Em meu coração mescla-se o fluxo de sangue quente, a pulsação de gente que se reinventa a cada instante, a cada respiração, a cada pulsação. Gente que sobreviveu à guerra e atravessou oceanos, em busca de sonhos e de uma vida melhor. Há densidade e intensidade, nas batidas e nos modos de ‘dar passagem’ para novos fluxos, novos processos de reinvenção de vida. Assim, sinto hoje no peito um coração que sabe ser sereno e intenso ao mesmo tempo. Ele se nutre todos os dias da confiança amorosa, dos amores conquistados com o tempo, com laços profundos e entrelaços abstratos de energia! Eu sei o que fomos, eu sei o que somos e, assim, mesclados e entrelaçados no peito, sei que vidas se entrecruzaram e semearam devires. Cumpriram a sina de vidas 'en-a-mor'!

Fiquei pensando que a música é bonita, sensível, amorosa, mas romântica demais, no sentido do sofrimento amoroso, que não é minha opção no cultivo do amor. O refrão diz: “Onde andará?/ Que paixões terá?/ Quando voltará?/ Ou me esquecerá”, com uma deliciosa e dengosa melodia da Marrom. Esse chamamento, acredito, brotou em mim, pela lembrança de um amor antigo, que permanece na lembrança e vez por outra surge como uma nuvem de intensidade amorosa, que transita em mim, que se mistura com a imagem da cena cotidiana! Numa dança de memória, o encontro com essa ‘névoa amorosa’, me traz a sensação de graça e emoção alegre. É bom que tudo tenha sido vivido! Resta em mim o agradecimento pelo bem da vida, pelo que pôde e pode ser vivido. Se, como nos ensina Emmanuel, tudo é impermanência, que os instantes de amor vividos sejam a nossa constante, na lembrança, na vivência, no sentimento! Assim tem sido comigo, assim tenho vivido amorosamente!


Hoje reconheço meu coração como um feixe-trama de entrelaçamentos amorosos de grande consistência. São florações entrelaçadas, em um substrato fértil e pleno de húmus da vida! Deste coração, florescem sempre (até quando o Moço da Parede permitir!), com viço, novas possibilidades. Aqui são cultivados os floresceres que se tornaram possíveis e se mantêm plenos, também cultivados por outros seres que me amaram (que me amam!). Sou realmente muito grata, especialmente porque nessa complexa teia-trama da vida, a amorosidade se renova, longe da idealização. O amor é cultivo compartilhado, como quem cuida da floração e das sementes semeadas para gerar o fruto mais saboroso que existe! É bom se saber ‘en-a-morada’! Este, literalmente, é o meu território e a minha matriz existencial!