segunda-feira, 14 de agosto de 2017

Casa de floresceres!

A energia da casa precisa ser trabalhada com entrelaços de amorosidade e firmeza. Há laços a serem revisados, ajustados, laços que enlaçam, que envolvem os sujeitos, ao mesmo tempo que são agenciados por esses próprios sujeitos, numa energia que emana e se autoproduz constantemente. Campo de floresceres, campo de usinagem de vida. Habitat de seres-alma entrelaçados por uma razão sensível cósmica. Leva-se muito tempo para entender o que se sente todos os dias, o que vai tranversalizando a nós mesmos, construindo liames, em cenas compartilhadas, frases, olhares, risos, gestos, carícias trocadas. Momentos de aprendizado imenso...em que se aprende a compartilhar, conviver, dividir o alimento, o sustento, os sabores e amores.

A casa da gente é uma matriz ecossistêmica de força, de onde florescem projetos de vida, de seres-flores, seres que, em determinado momento, se vão, pelo mundo afora, para construir outras casas-matrizes de florescimentos. O que acontece é que a casa é uma roupa grande, uma outra pele, maior, mais densa, que reveste a vida da gente, na usina de produção, em entrelaços com os seres que o Universo escolheu para serem nossos, nessa vida, nessa passagem-viagem! Cada um constitui uma parte de um texto maior, textura, tessitura de vidas em brotação.

Eu gosto das minhas casas. Gosto de cada coisa, das minúcias. Em cada detalhe, há vestígios de mim mesma, ali, inscrita no tempo e nas minhas tantas limitações e algumas potencialidades.  Gosto do que venho construindo e tenho respeito pelo que pude (e também pelo que não pude!) fazer. Fui vivendo sempre no meu máximo, fazendo sempre o que podia, como tentativa imensa, me esforçando para conseguir manter a família, manter os projetos seres filhos, como seres de amor e bem-querer-bem. Há também sinais de muitas dores vividas, muitos momentos sofridos, desgastes da vida, momentos impensados, violência existencial. Nem tudo são flores, mas das dores também floresceu um ser Malu mais forte, sensivelmente mais forte. Fui o que precisava ser, em cada momento.

“De tudo ficou um pouco”, como diz Drummond, em um dos meus poemas preferidos, lindamente intitulado Resíduo. Também há nas minhas casas meus melhores momentos, os momentos cúmplices, os momentos de paixão, momentos de impetuosidade e italianidade, momentos ardentes. Foram todos momentos de amor profundo. É esse amor que sinto, ainda hoje, me sustenta e mantém viva a orientação para trabalhar a energia das casas, para tentar fazê-las mais acolhedoras, mais floridas, mais amorosas. São casas simples, sem cadeiras na calçada, porque minha condição de vida não me permite morar em ‘casa, casa’ mesmo... Meus espaços de vida são ‘casa’, porque fiz ‘casa’ dos apartamentos que tenho... casa, morada, toca da leoa, Solar Cardinale, onde transitam pessoas que amo ou por quem tenho amoramizade! Assim como tem que ser!


terça-feira, 1 de agosto de 2017

Um filho é uma alma da gente!

A frase me veio hoje à cabeça, em uma situação importante. Um filho é uma alma da gente! Eu sei, alma não tem dono, não faz sentido, mas eu penso que a frase veio, porque eu senti e pensei que um filho é uma alma que o cosmo escolheu para estar sob os nossos cuidados. Cuidados imensos, entrelaços na mesma proporção. Uma alma que nos desafia, nos alegra, nos preocupa, às vezes também nos cuida... Uma alma ‘nossa’! Uma alma amada, com quem se cultiva o amor e se aprende a amar e estabelecer e reconhecer limites! Uma alma que nos faz humildes, profundamente humildes, compreendemos que sabemos pouco da vida e que nada está decidido nunca, nada que sabemos de nós mesmos vale para o outro que vive outra vida, em outro tempo, com outras tramas existenciais. Tudo tem que ser construído na vivência e na trama de entrelaçamentos e acontecimentos.

Ao mesmo tempo, parece que somos nós mesmos do lado ‘de fora’. É como se fosse o desdobramento da nossa própria alma, um desdobramento do nosso corpo físico espiritual emocional. Eu já tinha ouvido falar que um filho é o coração da gente multiplicado. Não, não é só isso. É muito mais que o coração. Sinto que há entre nós uma ligação de natureza meio mágica, um filamento espiritual que nos une e nos faz conectados, para muito além do que é visível, para muito além do corpo físico, para muito além do que eu um dia pude imaginar. Eu sempre tive isso especialmente com minha mãe, mas não entendia bem. Só sabia que era uma conexão profunda. Ainda hoje temos conexões sem explicação no mundo físico, material. Coisas de mãe-filha.

Agora, nesse outro tempo da minha vida, todas as vezes que meu olhar encontra os olhos dos meus filhos parece que o mundo, a vida, faz sentido e eu vislumbro meu sentido de vida. E que o sentido mesmo é um texto que não pode ser dito na sua completude, até porque é um texto que eu não sei completo.  Eu só pressinto, porque é um texto sempre em construção, um texto que se constrói junto, na relação. Percebo que há uma matriz de desejo do que eu quero dizer, em síntese, para essas almas minhas. Sim, porque parece que viemos para nos colocar em situações de desafios de construção de potência, situações que são acionadas pelo motor gerador do próprio sujeito. E, assim, o que eu mais quero dizer é: acredita, você pode! Não há modelo, não há um jeito pronto, mas há o que 'você pode fazer' com seu jeito, com sua marca, descobrindo sempre ‘o que te importa?’. Eu não te quero do ‘meu jeito’, eu te quero ‘seu’, autônomo, ser por você mesmo. Meu modelo é insignificante para quem tem uma vida inteira pela frente. Minha vida e meu jeito não são modelos para ninguém. Eu me considero uma pessoa esforçada, totalmente voltada para o bem-querer-bem, mas isso não quer dizer que eu tenha respostas... que eu saiba muita coisa.

Fico pensando que apesar de lidar tanto com as palavras, com meus filhos eu falo mais intensa e adequadamente de outras maneiras. Produzimos interações e significações, muitas vezes, sem texto verbal. Produzimos textos intensidades abstratas, que nos conectam e fazem com que o rumo da prosa seja amoroso, intenso, até mesmo quando discordamos. É uma vida inteira, talvez mais que isso, é um tempo intensidade que, pelo que entendo, não se limita a esse tempo que estou por aqui. Bem, por óbvio, este texto aqui não termina... deixo, no entanto, a frase em resposta à pergunta de um dos meus filhos, quando pequeno. Ele chegava perto de mim e me perguntava: “Mãe, você nunca vai me esquecer?”.  E eu que digo frequentemente que ‘nunca’ é muito tempo, neste caso, posso afirmar: “Nunca! Não posso esquecer, desistir e não acreditar em transformações, para melhor, de seres que estão conectados à minha própria alma. São minha própria vida prolongada, meu fluxo de vida, minha respiração, minha pulsação existencial! Sou muito agradecida pelos filhos que tenho, pela almas que recebi para cuidar! Assim como sou muito grata pelas almas com as quais pude me (re)encontrar! Muito! Lembro-me do poeta  Fernando Pessoa, que disse: "Tudo vale a pena quando a alma não é pequena." No nosso caso, somos almas entrelaçadas e, por isso, fortes! Tudo vale muito a pena!