quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

As leoas nas tramas da engrenagem maquínica



A pessoa trabalha ‘um mundo’, correndo o tempo todo, para dar conta de uma avalanche de demandas, todas fundamentais. Há ainda um mar de outros 'a-fazeres', lindos, acionados pelo bel prazer de produzir umas invencionices na vida, que ninguém é de ferro. Depois de tudo, passa uma imensidão de tempos, produzindo relatórios da produção, em plataformas variadas, para que ninguém pense que é improdutiva. Enquanto vai cuidando, milimetricamente, o registro dos dados, vai pensando que isso não é o mais importante. O mais importante é o tempo vivido, as produções todas, os acontecimentos produzidos nos encontros tantos, no dia a dia da vida de uma criatura que vive alegremente o que produz e se esmera para produzir alegrias nos diversos níveis e materializações. Certo, certo, na verdade, é isso, mas, há ainda outra verdade, essa publicizada, metrificada das produções acadêmicas, que diz que é preciso registrar, alimentar bancos de dados.... Enfim, é a típica situação em que as leoas entram em ebulição e, desassossegadas, praticam seu esporte favorito: o embate!

Malu: Olha só! Estou cansada! Entendi que a gente vive a barbárie, também no meio acadêmico. A cada dado que eu registro no tal relatório, fico pensando “por que trabalhei tanto? Se tivesse trabalhado menos, já teria terminado”. Agora passo dias cuidando milimetricamente, se estão todos os dados aí. Conferindo... Que beeeeleeezaaa!

Maria Luiza: Não adianta, Malu. A vida é assim mesmo. Não há como escapar. Ao contrário. Não queremos escapar. Amamos a vida acadêmica, a lida. Preparamo-nos muito tempo para esse lugar, para estar formando pesquisadores, mestres e doutores.

Malu: É, é lindo mesmo, mas nem tudo é lindo. Essa métrica a que estamos submetidos todos, a engrenagem maquínica que nos conta, nos matematiza, nos transforma em dados frios, não combina com o ‘mundo da vida da Ciência’.

Maria Luiza: Compreenda, criatura, de uma vez por todas: o mundo da vida em geral, e também o da Ciência, é mais amplo que a tua dimensão sentimentalóide poetizante. Isso é uma síndrome, eu acho... não é possível! Você deveria vir com manual, pra eu saber como acionar o dispositivo racional. Não adianta. Tem que fazer, faz. Pronto. Não reclama, não te entedia. Abaixa a cabeça e avança.

Malu: Bem, cada um com suas síndromes. A senhora se acha muito normal, abaixando a cabeça e produzindo dados para alimentar uma tal coleta, que vai depois alimentar uma coisa chamada sucupira, junto com um mar de gente que faz isso também, numa subserviência ao sistema maquínico...

Maria Luiza: Pára! Em que mundo você vive? A engrenagem existe e, para fazer o que amamos, estamos nela e aí queremos ficar. Então, racionaliza, criatura. Faz parte, está no ‘pacote’. É uma espécie de ‘combo’ da vida acadêmica. Você quer viver as graças e alegrias do Amorcomtur, mas se incomoda de ficar conferindo os dados, postando em três, quatro plataformas...

Malu: Três, quatro, oito, novecentos e cinquenta plataformas a senhora quer dizer. Cada lugar é de um jeito. Depois, nesse mundo parece que não há como viver sem um formulariozinho, uma planilha, um relatoriozinho básico, com dados, claro, conferidos em outras trezentos e cinquenta plataformas, algumas que não funcionam direito ou que não são ‘amigáveis’, para usar a linguagem da informática. Sim, porque de amigáveis não têm nada os espaços que você demora um tempo para abrir... e daqui a pouco se fecham... e outros que você tem que clicar em um mundo de lugares para se achar o que procura... bah!

Maria Luiza: Você me obriga a me repetir! Não seja dramática! A vida é o que está! Enfrenta ou, como dizem os jovens: “Aceita que dói menos!”.

Malu: Que engraçadinha! Agora a senhora resolveu fazer graça... Que beleza! A pessoa se esgualepando em meio a turbilhão de coisas para fazer, e a outra brincando...

Maria Luiza: Você já deveria me conhecer e saber que brinco bem pouco na vida. Sou prática operacional. Não faço drama, nem comédia. Só vivo. Cada dia de uma vez. Só isso.

Malu: Uff... prática operacional. Claro, não há nada mais conveniente à engrenagem maquínica. Um ser prático operacional. Parabéns! Que orgulho! Você não se irrita, não se abala, tem esse tom majestoso, de que acha que sabe tudo, acha que sempre sabe o que fazer.

Maria Luiza: Criatura, não delira! Estou muito longe de ser assim. Se fosse, já teria arrumado um jeito de me libertar de você e da tal Luiza. Vocês me atrapalham. São cheias de sentimentos, de amorosidade, de poesia. Ao contrário, com essa imensidão de afeto de bem-querer-bem, diante da impossibilidade de me livrar de vocês... acabei concordando em fazer da vida... Amorcomtur! Penso que agora é tarde para ser diferente. Quando vejo, eu mesma ando postando por aí: #souAmorcomturemtodaparte.




segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

Semana do meio


Iniciamos a semana do meio. A semana entre Natal e Ano Novo. É uma semana meio preguiçosa, com a gente meio zonza ainda da pressa de dezembro e os acontecimentos do Natal. Dezembro é um mês intenso, que prepara as celebrações do aniversário de Jesus e, talvez por isso mesmo, atice emoções diversas, como se ‘todos’ os irmãos se agitassem com a aproximação dos festejos do irmão mais célebre, ao mesmo tempo mais simples, aquele que nos aproxima do Pai. Eu sigo, no meu jeito, pra variar, refletindo...

Há tempos eu tento entender dezembro. É sempre um mês com tragédias e com um desassossego imenso, com as pessoas correndo, em busca de uma busca que busca e tal. A celebração do Natal deveria nos acionar paz, serenidade, tranquilidade, como mundo, em um resgate do que foi e é o Moço da Parede (Jesus!). Parece, no entanto, que ainda temos muito o que aprender. O que mais tenho visto, ao longo do muitos dezembros que vivi, são pessoas aceleradas, agitadas, nervosas, descontentes, muitas deprimidas.

Por sorte, convivo também com gente que tenta inventar jeitos de sobreviver dezembro. Gente que ri de si mesmo, que opta por modos simples de estar em ‘tempo de Natal’, mais em sintonia com o aniversariante. Não é fácil, há muitos apelos em sentido contrário. Como tenho dito, dezembro não é um mês, mas um exercício de sobrevivência diária. Rajadas de narrativas mercadológicas, do reino do consumo, que nos apelam para ‘o amor’, enquanto vendem celulares, carros, computadores, perfumes e tudo o mais. Às vezes, parece que o texto é que se você ama, você compra. De tudo o que aprendi sobre o amor, no entanto, um dos aspectos mais importantes é que ele não tem nada a ver com posse, propriedade, com acúmulo de capital.

O amor se constitui em singelezas, nas intensidades plenas de uma espécie de substrato amoroso, que surge na convivência e no estremecimento do si mesmo, no encontro com sujeitos e seres vários, com ambientes, com os diferentes ecossistemas. O Amor tem várias naturezas e se nutre, especialmente, dos entrelaçamentos vários dessas naturezas diversas. O amor também é subversivo, porque não segue regras, nem mesmo as que pareciam consagradas. Para o amor, por exemplo, não há tempo e espaço. Não há limites, não há fronteiras e, ao mesmo tempo, ele mesmo, em si, em sua singularidade, delineia possíveis e impossíveis, ainda que, mesmo assim continue ‘sendo’ amor.


Como normalmente acontece, na ‘semana do meio’, eu aproveito para ajeitar algumas coisas em casa, sistematizar papéis e lembranças, organizar um pouco o ecossistema da leoa essa aqui e sua tribo de leõezinhos. Enquanto remexo papéis e os cantos da casa, também tento remexer e organizar um pouco do mundo interno, que também precisa de ‘arrumações’ às vezes. Mais que nunca, procuro serenar. Aprendi que ter paz é algo também de imenso valor. Lembro a frase de um grande amigo, que vez por outra, ecoa em mim: “Devagar, que tenho pressa!”

sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

Preliminares da escrita...

Os textos também têm um tempo de fervura, as ‘preliminares’, as afetiv(ações). Às vezes também têm sua urgência, seu desassossego! Assim, o autor vai sendo ‘afetivamente afetado’ pelo texto, em um processo semelhante ao embriagar-se, perder-se de si mesmo.  Simultaneamente, busca a si próprio e ao outro, a quem vai se entregar inscrito, ‘inscriacionado’. São muitas provocações, muitos atiçamentos, em um jogo de insinuações, em que o texto se mostra e se esconde, assim, meio como quem ri do nosso desejo de escrever... Até que essa ‘fervura’ chega a um ponto do soltar-se ... e o texto... jorra!  Gosto de deixar jorrar... floresceres em palavras!