sexta-feira, 30 de dezembro de 2011


Que lugar é esse ‘eu’?
Lugares, territórios, cantos existenciais

Nesses dias, em Porto Alegre, tenho vivido o estranhamento de voltar pra casa. Sim, moro nesta cidade, mas agora também moro em Caxias do Sul. Desde março, comecei a estruturar um apartamento lá, um lugar, um canto, uma morada, um novo território existencial. No começo, foi tudo muito difícil. Consegui um apartamento em um lugar ótimo da cidade, bem localizado, com boa iluminação, mas sem n a d a dentro, nem pia na cozinha... nem tanque, na área de serviço. Tudo a fazer, tudo a ajeitar. Tarefa árdua, pra uma mulher femininamente incompetente para fazeres domésticos ligados à eletricidade, instalação de móveis e eletrodomésticos... varaus... tudo... absolutamente tudo tem que ser pago. Contratar ‘homens’ para fazer os serviços, para os quais sou assumidamente incompetente. Sei que há mulheres que conseguem fazer também esses serviços... eu não. Meu universo de competências é outro.

“Tudo aconteceu muito rápido”, me disse, uma vez, uma pessoa especial pra mim. Sim, muito rápido. Tive que ir vivendo, sozinha, o turbilhão do concurso, a aprovação, a ‘comemoração’, as decisões que precisavam ser tomadas, a conquista do apartamento, primeiros momentos dormindo no chão, mas já com um território existencial em construção. No apartamento, acima da porta, uma pista importante, de que a mudança era pra melhor: uma fotinho, um xerox da imagem de Jesus Cristo tinha sido deixada lá, pela dona do apartamento, a antiga moradora. Olhei pra ele. Sorri e disse: “Tá, entendi que você escolheu! Entendi que você está comigo. Não vou ter medo!”. Na verdade, eu queria não ter medo, mas eu tenho que admitir. Tive muito medo. Não há como ser chefe de família, com quatro filhos, sozinha pra dirigir uma família e uma empresa e não ter medo de fazer mudança. Eu chorei muito, sendo que, depois disso, todas as vezes tive que me levantar e seguir adiante. Acionar o motor prático operacional e fazer o que tem que ser feito. Cheguei jornalista, com as aulas da UCS iniciando, cinco turmas novas, disciplinas novas: computador com internet, rádio, televisão, celulares, duas malas e... colchonetes. Assim, podia trabalhar. Nos primeiros dias, o único lugar pra sentar era o vaso do banheiro. Patético. Engraçado, quando vira história.

Em muitos momentos, malucamente, eu me desorientava na cidade nova. Não sabia direito as ruas, a parada de ônibus pra descer, à noite, na volta da UCS. Perguntava quinhentas vezes. A resposta era sempre a mesma: uma parada depois do hospital Pompeia. “Mas, Meu Deus, onde está o tal de hospital?”, eu pensava. Eu sequer conseguia ver o hospital, porque a frente dele é na avenida Júlio e o ônibus circula na Pinheiro. Então, não me dava conta que a tal de referência era, na verdade, ‘os fundos’ do hospital. Pensava: Que incrível isso, eu não enxergar um hospital. Literalmente, ficava com medo que estivesse valendo a máxima popular: “Você não enxerga nem um palmo, diante do seu nariz!”. Pra algumas coisas, acho que demoro um pouco mais a enxergar mesmo. O lado bom é que fiz amizade com a cobradora e o motorista – já que eu sempre pegava o ônibus no mesmo horário. Uma noite, distraída, esqueci de descer e, quando me dei conta, sentada no fundo do ônibus, comecei a escutar o motorista dizendo: “Mas ela não vai descer? Essa é a parada dela!” A cobradora respondeu: “Não sei, vou perguntar”. Em resumo: eles já me conheciam. “A professora jornalista!”. Já tinha me inserido no lugar, ônibus Cinquentenário, que me deixa em frente de casa, a Casa de Caxias.

Miopia elevada à potência ‘n’. Miopia emocionada. Putz.. aí não há Maria Luiza que me defenda. Eu me mobilizei, em função do amor. Amor por uma pessoa. Amor pelos meus filhos e minha profissão. Amor e desejo de construir uma nova realidade profissional e pessoal. Sim, depois de quase um ano, eu consegui isso. Consegui como foi possível. Consegui, cuidada por novos amigos, por pessoas lindas e carinhosas, que foram me acolhendo. Pessoas que olhavam pra mim e foram compreensivas com minhas (tantas) limitações de novata no lugar, no novo território existencial. Pessoas que se ofereceram para ajudar. Pessoas que foram se tornando minhas cúmplices, no cotidiano. Filhos, alunos, amigos, colegas, queridos amados funcionários da UCS, gente da melhor qualidade. Em momentos extremos, nem sempre a ajuda vem de onde se espera, mas se existe uma determinação justa, do bem, amorosa, acredito que é possível avançar. Foi assim que segui.

Assim fui construindo a ‘casa de Caxias’. Ela é diferente da de Porto Alegre. A de Porto Alegre é mais bem estruturada, é maior e tem mais cantos e recantos. Tem mais história também. Histórias alegres e tristes. Algumas muito tristes. Tremendamente tristes. A casa não tem culpa. Nada e ninguém tem culpa. Eu tento, há anos, também, me ‘des-culpar’... em parte aprendi, ao menos em parte. Mas, acostumada à sensibilidade extrema, ao encantamento do mundo e a esse olhar que se entrega enamoramente para cada lugar e pessoa, eu reconheço narrativas existenciais de outros tempos, revejo-as, relembro, ‘re-avivo’ algumas que gostaria que retornassem e outras que... nem pensar! Talvez a Maria Luiza tenha razão. Estou bêbada de afeto e poesia. Sim, o que ela mais tem é razão! Mas nem só de razão vive a Malu, a racionalidade me completa, mas, certamente, não é minha única substância constitutiva... eu vivo mais do amor imenso!

A Casa de Caxias é um sopro de vida nova. Montada em parte com coisas que levei de Porto Alegre, escolhidas, selecionadas, para romper com a condição de ‘acampamento inicial. Depois, chegaram coisas novas, móveis novos...também tudo escolhido com cuidado, de migrante, de quem chega em uma cidade nova, para ‘fazer a vida nova’, ou seja, economicamente. Na minha italianidade, pensava no que teria sido a imigração dos meus ancestrais... Meu Deus... começar vida nova em um lugar tão perto de Porto Alegre, voltando pra lá todas as semanas, mantendo a casa montada já estava sendo tão difícil... mas imagina o que teria sido deixar a ‘nostra Itália’... o porto de Napoli... a família toda. Eu tenho vontade de chorar, só de pensar nisso.

Giuseppe e Chiara foram morar comigo, depois de maio. Novos desafios. A sensação de vê-los chegando na escola nova. Olhares curiosos. Ansiedade estampada no rosto. Ao mesmo tempo, desejo de que tudo começasse logo e o medo de que não gostassem. Eu sabia que era uma mega mudança, para eles também. Amigos novos, professores novos. Novos territórios subjetivos. Pela proporção das minhas dores, temia pelo que sentiriam e pela insegurança de não conseguir acalmá-los, quando a saudade viesse, as diferenças entre um lugar e outro se sobressaíssem. “Em uma mudança, filha, a gente ganha e perde, ao mesmo tempo. É preciso aprender a valorizar mais o que se ganha e ter paciência com o que se perde. É assim”, foi o que eu disse, um tempo depois, para a Chiara, minha filha caçula. É o que eu aprendi, com as mudanças, na vida. Espero seguir consolidando esse aprendizado, em mim, nesse território existencial nômade, em trânsito...cuja casa, neste ano, foi também a estrada Caxias-Porto Alegre, as árvores, as curvas, o movimento, a busca, o encontro, o desencontro, a despedida, o riso, o choro, a noite, o dia, o vento.... o amor, sempre o amor!.

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Encontro de leoas 6




Maria Luiza: Ahhhhhhh! Então quer dizer que você vai querer terminar o ano de onde começou? Nada aconteceu? Você enlouqueceu ou está só fazendo de conta?

Malu: Calma. Calma. Para tudo existe uma explicação. Risos. Foi só um descuido, me distraí.

Maria Luiza: Certo. Certo. Um pequeno descuido e você quer se deixar soltar no mar de afeto aquele... Me diz: onde você se doutorou em tonta? Qual é a universidade que tem doutorado nisso?

Malu: Mas criatura, você está cansada de saber que me doutorei em Ciências da Comunicação, pela USP. Quase me matei estudando pra isso.

Maria Luiza: Tá, mas não é o que parece. Estou cansada é de te ver derrapando e caindo sempre na mesma armadilha, sempre o mesmo tipo de afeto te pega, te toma, te mobiliza e te põe maluca de verdade.

Malu: Não. É que o afeto esse é... lindo! Moreno. Risos. Mas você tem que admitir. Estou mais madura. Passei o ano todo na minha. Quieta. Quase quieta. Tá. Não muito quieta, é verdade. Na minha condição de pessoa livre, solteira. Amorosamente apaixonada pelas pessoas. Sem compromisso. Não sozinha. Mais recentemente é que as coisas têm se transformado... Também, olhos verdes são irresistíveis. E não são olhos quaisquer... são olhos do.. bem, você sabe.

Maria Luiza: Pois então, segue o baile da transformação das coisas. Não empaca, não recua.

Malu: Mas quem diz que tô empacando? O que eu preciso que você entenda é que há alguns amores que constroem, na gente, o que eu chamo de ‘substrato amoroso’. Não há nada que abale. Não importa tempo. Não importa nada. Quando se remexe nele... tudo volta. Tudo brota, sempre com o mesmo viço. Às vezes mais...

Maria Luiza: Ah, mas, como diria, meu filho, tu tá tirando onda com minha cara? Sempre com a mesma idiotice, você quer dizer?

Malu: Onda, onda... mar.. risos... isso me fez pensar em algo... bem..não, quero dizer, não é isso. Sou fiel aos meus sentimentos. Sempre fui. Às vezes, me vem um surto de sinceridade e digo as coisas... Já passei da idade de me importar com picuinhas e não me toques. Se um mar de afeto se remexe.. eu deixo vir... se não é suficiente, não é por isso que ele deixa de existir. Como sou, posso produzir outros mares, mas eles não se substituem, só se acumulam... camadas e camadas de substrato amoroso. Assim, são meus amores que se foram....

Maria Luiza: E que não se foram também?

Malu: Ei, ei, cada coisa no seu tempo. Cada amor no seu momento. Cada um tem seu canto, sua possibilidade e duração. Atualmente só tenho ‘um’ amor. Os outros são de outro tipo. Bem... vale o que disse o poeta sobre a finitude da paixão; a infinitude do que se vive, quando se está junto. A condição eterna do substrato amoroso construído a dois.

Maria Luiza: Ihh.. grave, muito grave. Ela está bêbada de afeto e poesia. Melhor deixar quieta, ver se passa...

Malu: Passa, pode ter certeza que passa, mas demora. Você leva tudo muito a sério...

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Vestido de flores miúdas... e a Madeleine!




Tecido macio, fundo cor de vinho, com flores miúdas, cujos tons variam entre o amarelo queimado e o marrom. Os detalhes das flores são da mesma cor vinho da maior parte do tecido. Há também algumas figuras geométricas, de outras cores, predominando o azul e o verde. Essas mais parecem aquelas imagens, que surgem quando fechamos os olhos com as mãos e ficamos aguardando ... bem, eu sempre fazia isso, quando criança. Agora não tenho feito, porque quase não tenho tempo. O atropelo cotidiano me rouba de práticas prosaicas, como essa e, também, o gosto de usar um vestido de flores miúdas que tenho já há algum tempo. Comprei em Recife, sabe Deus em que ano... era outro tempo na minha vida. Agora gosto mais do vestido. O tecido parece que se acomoda no meu corpo... ‘eles’ se entendem. Meu corpo gosta de quem o conhece. Sempre foi assim.

As flores são imagens que me acompanham, desde sempre. Sou filha de florista, minha família teve uma fábrica de flores no interior de São Paulo, como eu contei em outro texto. As margaridas brancas seguem minha história e até dão nome a esse blog. São imagens singelas... ternas. Outras flores são insinuantes. Têm ternura e sensualidade, ao mesmo tempo. Até hoje, meus arroubos de desenhista se resumem a desenhar flores. Quando vou dar um exemplo, em sala de aula, para falar da construção da significação... vira e mexe acabo desenhando... flores. As flores também expressam bem minha condição feminina. Fêmea e menina.

Às vezes me incomoda a fragilidade, essa ternura e amorosidade exageradas, jeito de menina, mulherzinha... mas, logo depois, percebo que é uma incomodação sem futuro. Não há como mudar a matriz da criatura, a essência da ‘coisa’, sendo que, no caso, a ‘coisa’, sou eu, a coisa Malu. Pra sobreviver e não viver me machucando... dá pra brincar um pouco, apelar para o humor e deixar vir à tona alguns personagens que brotam em mim, como exercício prático de sobrevivência. Foi assim que surgiu a Madeleine.

Eu ainda sei pouco sobre ela, porque seu traço mais forte é a paranóia. Madeleine é uma criatura que passa o tempo todo imaginando conspirações internacionais contra ela. Tanto que não me disse ainda o seu sobrenome e sua cidade de origem. Há coisas que ela não conta nem pra mim mesma. De certo, porque imagina que eu sou a grande conspiradora contra ela, porque a criei. Pelo sotaque, já se sabe que é francesa de nascença, mas vive há algum tempo no Brasil. Olhar arregalado para tudo e todos e sempre pronta a desmascarar um... “plaaaanu”... “uma conspirración internacional”...enfim.. só vendo mesmo.

Certamente, ela passou o dia indignada com o tal vestido de flores miúdas. Deve estar pensando que é um plano meu, para que ela seja vista assim, pelas pessoas, com um vestido envelhecido . Certamente me diria que isso faz parte de uma vontade interna de que ninguém a queira ver. Não... o vestido é bonito, Madeleine. Eu responderia.. mas ela... francesa... acostumada à moda de Paris, certamente se incomodaria com esse singelo vestido de flores miúdas comprado em Recife. Eu gosto. Ele ‘me tem’ hoje... bem confortável, à vontade. Vestido longo, tecido macio.

Eu me diverti muito com a Madeleine esse ano. Seu surgimento ocorreu dentro de um ônibus em Porto Alegre, na volta de uma visita à Casa de Cultura Mário Quintana, quando fui assistir a uma apresentação de dança da minha filha mais velha, a Giulia. Lindo espetáculo. Eu voltei emocionada. Estava com o Pietro, meu segundo filho. Era de noite. Chegamos em frente ao mercado e estava estacionado um ônibus, da linha Santana, com o motor ligado. Bem.. a lógica, quando você chega à parada e tem um ônibus com o motor ligado o que você pensa? Que ele vai sair em seguida. Pois é. Este foi o problema. Entramos e depois de um tempo, a Madeleine apareceu indignada, dizendo que era um ‘plano’ do motorista e do cobrador... para sequestrar uma pobre mãe, com seu filho, na noite de Porto Alegre. Na sua loucura indignada, na sua verborragia despejava uma linguagem afrancesada, marcada pela indignação, por já estar há mais de 10 minutos presa dentro do ônibus. Ela dizia insistentemente ao filho que o motorista e o cobrador faziam parte de uma conspiração internacional contra ela... Daí não parou mais, Madeleine foi aparecendo e brincando com situações do cotidiano que tornam a vida ao mesmo tempo ridícula e mínima...mas que, se não forem tratadas com humor, podem levar a pessoa à irritação, ao estresse.

Um momento marcante foi o encontro de Madeleine e um quero-quero (o pássaro). Eu tinha terminado de dar uma aula no CETEL, um dos prédios da UCS e tinha que ir até o Bloco M, para outra aula. Na ‘subida’, Madeleine se depara com o tal pássaro, ali parado, meio em dúvida, se atravessava ou não a rua. Paramos, eu e ela – que só pra esclarecimento do leitor, somos quase a mesma pessoa... ao menos vivemos no mesmo corpo... puxa... esse suposto esclarecimento talvez o esteja confundindo.. não importa.. não se preocupe... siga o texto que a vida também é assim.. confusa. Enfim, diante do quero-quero (hum, o nome da criatura é sugestivo), Madeleine e eu paralisamos. Eu trazia a lembrança (trágica) da infância de um ganso que me atacou e bicou... bem, não importa onde. Quer dizer, coragem mesmo para enfrentar a tal ave... eu não tinha. Aí...ele, o quero-quero, em dúvida.. ia pro meio da rua e voltava pra calçada.... Palhaçada...Madeleine começa a disparar um discurso afrancesado pro tal pássaro.. na sua linha de que ele também fazia parte de uma conspiração internacional de “quero-queros”, que queriam acabar com a reputação dela... o que os alunos iriam pensar se a vissem com medo de um pássaro e tal... esbravejou que se negava a dar um passo sequer enquanto ele não saísse da frente...O pássaro, lógico, ficou insensível ao desespero da Madeleine – e meu, que tinha um grupo de alunos me esperando e também não queria que alguém me visse falando sozinha. Afinal, o que pensaria????

Bem... o impasse se resolveu com a Madeleine recuando e resolvendo atravessar a rua, aos brados, solta na sua ‘reclamonice’ tradicional. O encontro emblemático com o ‘quero-quero’ acionou a Madeleine. Singela cena e hilária, pra quem viveu. Patética, ao mesmo tempo, se considerarmos a poética. Por que será que o encontro com um ‘quero-quero’, para Madeleine era tão ameaçador....hum....ela vai se debater de raiva...agora. Vamos aguardar ...

domingo, 24 de julho de 2011

Qual é o nome dessa criatura????




Meu problema hoje não é a vida, mas uma personagem sem nome que teima em se ‘aprontar pra sair’. Eu me preocupo, porque penso que uma personagem sem nome é uma personagem sem rumo... e acredito que deixar vir uma criatura assim é uma insensatez... é dispêndio de energia à toa. Certo, alguns me dirão que não, que eu posso deixar brotar e que a energia dela, no desenrolar dos fatos, na brotação das cenas, vai achar o rumo. Mas eu fico pensando que assim já é a vida e que me basta ter as minhas cenas e o meu caminhar assim... meio “andar de bêbado” – ah.. o livro indicado pelo Sensei Alfredo -.. me provocando à dedicação extrema, para reconhecer as probabilidades, a indicação dos rumos que se apresentam nesses movimentos aparentemente desconexos... Não sei... deixar vir uma personagem sem nome me parece uma irresponsabilidade...

Nesse sentido, eu sou um pouco lacaniana – referência ao senhor Jacques Lacan, pra quem não conhece. Entre tantas coisas interessantes, ele falava da importância do nome, que o nome já carregava um sentido, uma espera, eu diria, um destino. Claro que ele dizia isso de forma diferente, muito difícil, como era próprio para alguém que enaltecia o tempo todo o significante.. Tá. Não vou eu também falar difícil agora, que não é o caso aqui. Lembrei-me do Lacan só por causa da personagem sem nome... Não acho certo. Ela tem que ter um nome, mas ainda não sei qual. Eu a pressinto, tenho pistas da narrativa... sei os traços da sua personalidade, mas nome, nome mesmo... ainda não sei. Em algum momento, ela vai ter que me dizer. Assim que disser, escrevo a história dela. Antes, não. Ela que tenha paciência. É pegar ou largar. Diz o nome, eu escrevo a história; enquanto não diz, fica quieta. Não vive nada.

Tá, supondo que eu concordasse começar a escrever a história dela. Como eu a chamaria? Eu diria... apenas “ela”... não sei.. “ela” é muito vago, impreciso. Concordo com o Luís Fernando Veríssimo, que me disse uma vez, em uma entrevista que eu fiz com ele, na época da faculdade: “Personagem tem que ter R.G, C.P.F. e tudo. Tem que ter identidade, tem que existir de fato. Meus personagens são assim”. Claro, quem sou eu... aqui... lembrando o Veríssimo, há tantos anos... eu que nem consigo dar um nome pra personagem. Certo, mas não consigo porque ela existe e, por isso, não é qualquer nome que serve. “Ela” tem o nome dela. Eu só não sei qual é.

Talvez eu não saiba, porque entre as coisas que andei espiando que ela vai aprontar... estão várias com as quais não concordo. Não concordo mais, digamos assim. Sim, porque eu sou um ser de matriz folhetinesca. Então, meus personagens são dessa estirpe, brotam ‘sem medidas’, se soltam nas tramas... pois não é que essa aí nem o nome quer dizer? Que petulância. Se eu sou o ser que vai escrever a história, “ela” não tem nada que ficar lá dentro se debatendo.. inventando moda... e, ao mesmo tempo, se negando a me dizer o nome.

A questão é que o nome tem indicação de desfecho...e ela ainda está caminhando no escuro. É selva ainda na construção do romance, esse de que falo... brotação de personagem em estado bruto. Dá pra ver pouca coisa... mas será a floresta? Não, não pode ser... eu não vou escrever um romance na floresta, a menos que volte pra Amazônia e passe um tempo lá.. pra, aí sim, conseguir.. Não seria má ideia. Só a lembrança da Floresta Amazônica me enche de alegria, mas isso é inviável neste momento... Estou com a vida focada no Sul do Brasil, entre Caxias e Porto Alegre. Mas então, que raio de lugar é esse.. de onde ela vem?.. Ahhh.. parece que vejo um pouco mais claro.. simmmm.. pode ser..

Se ela me disser o nome.. em breve começo a contar...vamos ter que esperar...paciência. Assim como na vida, nas narrativas da ficção, as personagens também têm seus caprichos...ou seria que caprichosamente elas preparam as emoções... futuras? Pode ser.

sábado, 23 de julho de 2011

O homem que pode mexer nos meus cabelos....


Um dia, um dos meus filhos começou a bagunçar os meus cabelos (como se isso fosse preciso ou possível.. eles já são bagunçados por natureza) e eu o repreendi. Disse: “Não.. só quem pode bagunçar meus cabelos é Fulano”. Tá, não posso dizer o nome. O Fulano não foi consultado. Também não faz muita diferença pra você saber quem é Fulano. Fulano é uma incógnita, como “x”, lembra? Veja bem, eu disse “x”, que é um número preciso, específico, e não “n”... isso faz uma diferença, pra quem conhece um pouco da regra das incógnitas. Isso quer dizer que Fulano é alguém que existe, tem R.G., C.P.F., até passaporte... Sim, Fulano também tem passaporte. Não fiz nenhuma viagem internacional com ele, mas sei que tem passaporte. Fulano, claro, é alguém muito especial pra mim.

Eu conheço Fulano há muitos anos. Fulano é um espetáculo. Adquiriu a prerrogativa de mexer nos meus cabelos, porque adora meus cabelos, meus cachos. Penso que meus cabelos também o adoram. Eu adoro que ele adore. Sim, acho simpático que ele goste de algo que é tão característico meu. Costumo dizer que as pessoas que não gostam do meu cabelo dificilmente me entendem... Sou cacheada. Crespa. Às vezes mais cachos; às vezes mais crespos. Depende o dia. Na menina Luiza enamorada por tudo e todos.. os cachos contornavam o rosto, eram delineados pela mãe ou avó. Cachos, cachos, enroladinhos, formando espécies de túneis de segredos, de sonhos... Depois, a Malu adolescente encrespou de vez...deixou os cabelos crescerem... se rebelou, numa rebeldia ingênua, que só se soltou mesmo, mais tarde...na época da faculdade. Aí, sim, os cabelos cresceram e escresparam de vez.

Eu conheci o Fulano bem mais tarde... Meus cabelos ainda eram bem compridos, revoltadamente crespos... eram bem mais longos. Fulano é um homem especial. O jeito de olhar, de sorrir... Sério, do jeito que eu gosto. Justamente por isso, quando brinca, a brincadeira fica mais saborosa. Jeito de homem, homem, não de moleque! Fulano não é um qualquer. Fulano é o homem que pode mexer nos meus cabelos. E faz isso com maestria, desalinha, descabela.. acaricia...enrola...depois.... tudo de novo. Com Fulano, é bom se perder no tempo. Normalmente é o que acontece.

sábado, 16 de julho de 2011

Cinderela! Cinderela! Mas que mundo mesmo é o dela?


Gosto de escrever. Mais ainda de escrever sobre o que me emociona. O Grupo Gaia me emociona. Muito. É um grupo de dança de Porto Alegre, mas não é apenas um grupo de dança, o que já, por si só, significa muito. O Grupo Gaia é um grupo de pessoas densas, intensas, que põem na dança a expressão humana em movimento. O nome do grupo é sugestivo. Um grupo que se chama Gaia teria que ser assim, avassalador, como eles se mostraram, mais uma vez, hoje à noite, no espetáculo Cinderela Fashion Week!

Muitas coisas me encantam nesse grupo: a capacidade de reunir técnica e conceito, a aproximação das diferenças, a grandiosidade da expressão, o contágio de ‘afectos’ que se acionam quando ‘eles’ estão em cena. É sempre um gozo, uma alegria...vê-los voar ou calar...É interessante que, ainda quando ensimesmam e encarnam a densidade emocional tensa dos nossos dias, eles conseguem mobilizar, em nós, o prazer estético e nos fazem entrar em contato com sentimentos doídos ‘em estado de arte’. Então, porque - e só porque - ‘em estado de arte’... tratam até mesmo a substância que os faz existir.

Na passarela do Espetáculo Cinderela Fashion Week, diferentes subjetividades se expressam contrastantes. São ritmos e velocidades, alternando-se a exemplo das cenas contemporâneas das cidades. A convivência dos contrastes. A mutação constante. A fragmentação exacerbada que faz do sujeito ser dançante, convidado, o tempo todo, a ‘dar a volta por cima’. São cenas que também contemplam o sujeito fera, o ser que rasteja, que gira em si mesmo para se reinventar. Cinderela Fashion Week... na memória, cenas se misturam e fazem brotar os múltiplos caminhos internos acionados pelo, literalmente, ‘e-s-p-e-t-á-c-u-l-o’!!!!

Durante a apresentação, desfilam também diferentes humores, na caosmose pos-moderna de rupturas muitas. Humor, graça, riso, choro. O convívio entre o velho e o novo. Em meio à turbulência, a caixinha de música... os conflitos, os diferentes modos de amar, o abandono dos modelos cristalizados, o ato de despir-se, abandonar as máscaras e retomar as máscaras. Na convivência caótica, às vezes, retoma-se a repetição neurótica e, de repente, tudo se transforma em voo existencial, físico, na alma... a dança, em nós, também remexe as cinderelas internas, arcaicas, contemporâneas, na mescla das demandas cotidianas, tantas.

Depois... assim.. agora.. resta agradecer..o espetáculo tem uma potência mobilizadora de afetos que se destaca, nas produções contemporâneas que conheço. Sabedoria e alegria em corpo, movimento e pensamento. Adorei!

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Ideia que te quero 'idéia'


Há algumas coisas na vida que são difíceis de aceitar. Muito. Coisas que acontecem contra a nossa vontade e diante das quais temos que nos resignar. Tocar adiante, assimilar a mudança e seguir a vida. Não é nada confortável ter que engolir uma imposição existencial dessas, mas, fazer o quê? Nós não mandamos em tudo. Na verdade, mandamos em bem pouca coisa, ou, diria, pra ser mais exata, em quase nada... Bem, a situação a que me refiro é a mudança ortográfica da Língua Portuguesa, em especial no tocante à extinção do acento da palavra ideia.

Meu Deus! Quem teve uma ideia dessas? Por quê? A ideia com acento não incomodava ninguém. Ao contrário. Era uma ideia assimilada, a maioria das pessoas a aceitava como era, assim, com o acentinho ali em cima, marcando, destacando, pedindo a pronúncia aberta. Eu sei, sou uma jornalista, tenho que aceitar as normas da escrita, ainda mais as normas da Língua Portuguesa, que é a que adquiri primeiro. Não tenho que me rebelar. Como jornalista, sou uma guardiã das regras, para garantir o resultado maior, que é a boa comunicação. Regras e criatividade, experiência amorosa nos processos de escrita. Sim, eu preciso das regras, tento segui-las e vivo, no trabalho de supervisão de texto, ajustando dizeres dos outros às regras tantas, de várias gramáticas, verbais, visuais, audiovisuais, internéticas... ah.. claro, as da escrita científica também.

Também sei que as mudanças ortográficas foram resultado de muita discussão e que vêm como uma orientação maior. Tudo bem, mas não estou convencida da importância/necessidade de retirar o acento de ideia. O acento parece uma iluminação, a indicação de um devir realização e, nesse sentido, sem acento, a ideia parece perder a força... Eu gosto tanto das palavras que muitas vezes fico pensando na relação entre as suas dimensões de significantes e o seu sentido. Explico, cada palavra tem um som e uma grafia, que resultam no sentido que lhe é atribuído pelo grupo que a ‘cultiva’... então, nessa combinação, algumas parecem fazer mais sentido, em sua expressão física, som ou imagem das letras, outras nem tanto. Entendem? É isso que está se rompendo com a mudança ortográfica que retira o acento de ideia (eu não posso escrever com acento... mas... vocês sabem...tem que ler como se acento tivesse). O acento projetava a palavra, o sentido dela... sem ele, a ideia fica sem projeção, tem que se aquietar e se limitar às letras que a constituem, ali, ensimesmada no i-d-e-i-a. Isso não é próprio de ideia. Não é não.

Bem, eu sei que coisas como essas, que se interpõem em nossas vidas... dramas existenciais que rompem com nossos hábitos, nossas preferências narrativas, de inscrição na vida... são assim, compulsórias, porque fogem da nossa alçada, do nosso campo de decisão. Estão nas mãos do outro, das outras pessoas. A nós, basta refletir e seguir...aceitando e vivendo a adaptação ao rumo que a ‘prosa existencial’ tomou. Não era o que eu queria. Não era o que eu preferia, mas eu já estou bem grandinha pra me limitar a queixas e reclamos. Se não posso mudar, sigo adiante... incorporo no cotidiano. Ao menos, as minhas ‘idéias’, aquelas que vivo produzindo nessa prática cotidiana de invencionices...brotam com acento, com devires, com projeção para a realização. Depois... bom, depois não depende de mim... é o universo quem manda, a lei maior, a lei do Outro.

domingo, 3 de julho de 2011

Família que consegue gargalhar unida...



Estou com a cena na retina. Ontem à noite, em meio ao jantar em família, por um motivo corriqueiro, desatamos todos a rir... a gargalhar. Lembro que, ao mesmo tempo que me soltava às gargalhadas, em função do ocorrido, olhava cada um dos meus filhos e conseguia pensar: “Meu Deus, que espetáculo! Minha família unida no desequilíbrio do riso!”. Vocês sabem, eu sou uma criatura reflexiva. Então, tudo que vivo me serve para amadurecer, pensar... saborear a intensidade dos significados, em busca do ‘sentido da vida’. Assim, também uma cena familiar corriqueira instiga a reflexão, possibilita a emoção da vivência... convida a pensar o que há, na cena, que me diz que estou em outro momento. Ao menos, agora também voltei a desequilibrar no riso, não só no choro.

As pessoas que me conhecem mais de perto sabem que vivi, nos últimos anos, duros momentos, desafios imensos, dores inenarráveis (puxa, que palavrão..dores impossíveis de narrar, eu quis dizer). Enfim, tudo tem seu preço e tudo passa. Tudo tem um motivo, para fazer crescer, amadurecer, embora, claro, no momento em que se vive, nem sempre a gente compreenda. Entendo hoje bem melhor os caminhos dessas tortuosas linhas da vida... rumos que eu não pensei... não quis, mas tive que trilhar. Já disse, mas vale repetir: sei que existe uma ‘escrita maior que tece nossos destinos’. Não importa o nome que se dê: é o movimento cósmico, que conspira e nos faz girar; é Deus impondo seu Grande Texto... O certo é que é maior que nós mesmos.

Eu tenho sido, é verdade, uma leoa, para enfrentar tudo isso. Às vezes, parece que vou esmorecer. Tantas vezes, eu caio aos prantos, mas quando vejo meus filhos assim, como vi ontem, às gargalhadas... quando me sinto também, enfim, imersa numa cena de desequilíbrio pela alegria... eu reconheço a imensidão dessa Força Maior agindo e permitindo tudo isso. Que alegria! Meus filhotes estão crescendo e, com eles, meus desafios. Mas tudo isso é muito bom! É intenso. A maternagem é um dos meus grandes exercícios e sustentos existenciais.

O motivo das gargalhadas não importa muito. Era algo do grupo familiar. Às vezes, para alguém de fora não faz sentido, pelo menos não o sentido que faz pra nós. A graça toda vem do quanto nos conhecemos e nos misturamos. Há textos intuídos, submersos na rede de afetos que nos une. Olhares que desencadeiam frases internas, discursos antigos que nos produzem e constituem. É lindo isso! Nas famílias, há ‘cacos’ de frases, pedaços soltos que nos provocam pensamentos similares, lembranças de outras vivências. Isso vai nos amarrando numa trama de afetos pra vida inteira, nos fazendo parecidos em uma série de aspectos. E permitindo que nos reconheçamos, nas diferenças. Ainda: construindo o respeito por essas diferenças. Respeito e amor profundo, imenso, pra sempre.

Assim, os ‘filhos da Malu’ têm um vocabulário comum. Eles também se unem para ‘falar de mim’, como a ‘grande chefe do clã’, para tentar subverter o meu poder, para brincar com meus jeitos e trejeitos, minhas manias e frases prontas: “É o final dos tempos! O mundo acabou e esqueceram de me avisar? Tá se comparaaando a mim?”. Eles repetem as frases, zombando de uma prática de quem se esforça para botar ordem no grupo. Sabem que eu me debato, na vida, para fazê-los pessoas do bem, que sou cheia de defeitos, mas amorosamente esforçada. Eles também têm a segurança do meu afeto, o que permite brincar, às vezes – nem sempre, porque a italiana aqui é também uma fera, uma leoa. Mais que ninguém, eles também sabem disso, com certeza.

É engraçado... Uma pessoa como eu estudar tanto coisas de Psicologia da Comunicação e, depois, vivenciar todas na pele...Nem sempre é engraçado, mas ontem foi. Muito.

domingo, 26 de junho de 2011

Força e choro...



Eu faço tanta força para viver, fazer o que tem que ser feito... Visto-me de muralha, ser sujeito prático operacional. Vetor racionalidade, pra suportar as intempéries. Tudo tão necessário. Seguir sozinha, em tantas situações... chefe de família. Encaro as coisas como tem que ser. Procuro vê-las como são. Não tenho mais tempo para viver sonhando apenas. Eu faço o meu dia. Eu faço e aconteço, ao menos no que me cabe. No que não me cabe, provoco.. se não acontece, eu sigo. Não páro. Realmente, me constituí uma pessoa forte. Uma mulher forte.

Só que, às vezes, quando olho uma filha chorando... ao se distanciar de mim...me ‘des-monto'... 'des-ando'.. 'des-águo'.. num choro frouxo, que parece um pranto que verte também por todas as situações em que não me permiti chorar...é como se aquela expressão no vidro do ônibus acionasse a menina em mim...Então, eu também me permito chorar. Permito ‘me ameninar’...embora isso tenha acontecido cada vez menos...por motivos vários.

A vida é muito linda, mas também é muito exigente... emoções à prova o tempo todo... Eu sou, sim, uma fortaleza humana, mas também sou frágil, também sento e choro ou, mesmo, choro caminhando, onde estou. "Que me vejam...", penso. Às vezes, o meu choro é a minha verdade. Como hoje. É o que me lava, é o que me leva para um outro lugar, para uma nova condição. O sofrimento também vai forjando uma outra Malu, mais forte. Desse jeito, assim emocionada... mesclando a força e a choro... a alegria e o riso... me derramando em lágrimas e alegrias , eu sigo...

sábado, 14 de maio de 2011

A MATEMÁTICA E O AMOR



É madrugada. Mais uma vez é madrugada e cá estou eu a escrever. Muitas vezes me acontece isso, de um texto começar a brotar na minha cabeça e ficar remoendo... ecoando, até que eu dou um jeito, mesmo tendo pouco tempo, acabo não resistindo e me ponho a escrever. Pôr pra fora. Deixar vir a ideia, já que há tantas lá dentro. Não é à toa que minha cabeça dá sinais de cansaço. Sobrecarga de informação. Literalmente, muito pensamento. Se não cuidar, isso gera entropia e o processo trava. Sabe aquelas situações: “este programa executou uma operação ilegal e vai fechar. Em caso de persistência contate o fornecedor”? O problema é que esta configuração já não é nova e o fornecedor acha que o sistema tem que ser preservado. Não adianta sair trocando peças...bem, mas não é disso que quero falar neste texto. O assunto que tem se remexido no meu cérebro é a ‘matemática do amor’.

Talvez seja porque eu estou dando supervisão para um doutorado da Matemática, neste momento, e também porque falar de amor é uma espécie de defeito de fabricação desta Luiza, do ‘fundo do baú’. Ela é a base geradora da Malu amorosa, mas a diferença é que ela é mais terna, linear – no sentido de coerente com seus princípios -, mais chorona e mais serena, sob um certo sentido. Sim, talvez venha dela também esse resgate da Matemática, que sempre foi seu objeto de adoração. Luiza venceu uma Olimpíada de Matemática, quando criança. Compenetrada, estudiosa, não se detinha apenas nas letras. Divertia-se com as equações, os exercícios de álgebra. É estranho alguém se divertir com isso? Para Luiza, não era...achava uma graça o fato de que, exercitando, descobria o ‘jogo lógico’ da coisa e aí era uma questão de raciocionar e seguir uma matriz: pá pá pá pá... não.. não podia esquecer o detalhe, se não invertia todo o jogo... atenção extrema... o sinal... o expoente...cada elemento da equação anunciava um desfecho.

O amor não se resume a equações, é verdade. Mas também, com o tempo tenho aprendido, acho que com a Luiza ‘do fundo do baú’, a descomplicar as equações. Tenho a impressão que há um mundo de voltas e enredos e dramas que foram agregados à matemática do amor, em geral, complicando a ‘equação’. Tenho me proposto, então, o exercício de descomplicar e retomar o jogo lógico, quase matemático... ao mesmo tempo em que a supervisão do texto da tese da minha cliente tem me provocado a refletir sobre a presença da Matemática na vida, na formação do sujeitos.

No amor, hoje, eu penso que o jogo é também simples, dependendo de como a gente o vê. Ama. Não ama. Nos dois casos, a situação está completa. Ama e ponto. Não ama e ponto. Não é preciso fazer nada depois disso. Não há nada igual, nem diferença. Não é preciso somar, multiplicar, subtrair e, claro, muito menos dividir. O outro não precisa fazer nada e a gente também não. Ama-se. A própria palavra se volta para si mesma. Observem: A M A. Gosto disso. Amo. Como num jogo matemático em que tanto faz começar do início ou do final.... o que vale é AMA. Assim, a Matemática do Amor é completa. Ela se fecha em um número completo, um número Cardinal. Talvez a Luiza Cardinale também esteja amadurecendo o seu jeito de amar...segue tentando, ao menos. AMA.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Histórias de onça 1


Por entre as árvores, a onça vai se esgueirando, buscando caminho novo...tentando achar saídas para a vida. Há pouco ela aprendeu a subir a montanha, subiu a serra. Na verdade, ela busca alimento para os filhotes e para si própria. Não só alimento concreto, substância para aplacar a fome do estômago, mas busca alimento pra alma, pra vida toda. Algo da ordem de um tipo de substância mais ampla, que sustenta a existência, promovendo caminhos, atalhos, picadas, construindo pontes para as realizações. A onça não pára.

A onça não dorme. Quase nunca se cansa, mas quando isso acontece, se deixa adormecer, exausta, diante da tela das águas. A onça também chora, às vezes, de cansaço. É um choro ‘riscado’ no rosto de onça, desses que mais parecem um desenho-lamento, porque a onça, mesmo sendo onça, também se cansa de ser sozinha, de ter que enfrentar a floresta toda, vencer seus medos, enfiar-se por entre os meandros das brechas das cachoeiras, do lugares úmidos e sombrios, de dia, de noite, de madrugada. Saltar, deparar-se com animais perigosos. Enfrentar seus próprios fantasmas. Onça também tem medo. Onça, na verdade, também se exaure. Não é sempre, mas também acontece. Quando isso ocorre, ela se entristece e, nesses momentos, chora esse choro riscado que eu falei, que brota da alma da onça, que fica ainda mais brava por estar chorando. Acha ridículo onça chorar, mas as lágrimas não sabem disso. Lágrima não entende. Lágrima só sabe chorar e esse choro brota em quem tem sentimento. Onça tem sentimento. Ah.. tem sim... e como!

A onça chora também por amor. Onça também se apaixona. Onça se apaixonou. Ela também já entendeu que paixão existe pra isso mesmo: pra viver lindamente o encanto e, depois, tristemente desencantar-se, porque paixão é imensamente forte, tem o componente da ilusão que tudo faz brilhar, que tudo encanta...mas também o líquido que corrói o sentimento e faz vir à tona, a imagem verdadeira do amor da gente. É como é.. inteiro. Então, a onça chora a falta do seu ‘véio’ que ficou lá atrás, resgunguento, resmungão, discursando... se esforçando pra brigar, pra que a onça fosse embora. Ela não queria. Tentou o tanto que pôde, mas ele brigou tanto, se esforçou tanto, que a onça entendeu... Tá, vou seguir meu rumo, vou tomar prumo, não parar... tentar não olhar pra trás. Vez por outra a onça olha (desobediente, com o destino). Deixa-se tomar por lembranças lindas, da porta, o corredor... e os outros caminhos da floresta. Olha e chora. Também olha e sorri, feliz por ter vivivo ... o que foi vivido. Às vezes, balança a cabeça e sai xingando, também resmungando (acho que isso é doença que pega): “Idiota esse meu véio. Abriu mão do maior amor do mundo. Deixa. Pra ele é importante. E o importante é isso. Ele está feliz. Assim como tem que ser”.

A onça então mergulha no rio das lembranças, escorrega no lodo das tristezas, mas não retorna. Se enxágua, chacoala... se balança toda e quase nova, renovada, segue. A onça, então, salta, caminha. A onça tem foco, a essas alturas da vida. O foco são os filhotes, seu sustento...da alma, da existência. Este é o foco maior. Ela também se reconhece como fêmea onça e entende que às vezes é preciso encarar uns leoes mais valentes, mais destemidos, desses que têm mais coragem de saltar nos braços da onça... sem medo de se aprisionar. Esses leões são sempre recompensados pela sua coragem... Seu véio leão ficou lá atrás, às voltas com outras criaturas, que nem ela sabe bem a raça, a estirpe.... melhor não saber... a onça não quer saber. A onça é ciumenta. Melhor deixar assim... seu véio é rabugento, mas maravilhoso. Certamente, haverá muitas outras criaturas para estar ao seu lado... a onça quer o seu véio feliz. A onça ama de verdade! A onça não fala que ama à toa.

O bom...de tudo isso é que a floresta é grande. A onça encontra também outros leões... a vida segue... Existem verdadeiramente leões também interessantes... A onça também está conseguindo arrumar sua nova morada... a alegria de construir novo lugar para pouso... para repousar e também para ganhar forças e continuar a caminhada, no outro dia, quando haverá mais sol, quando a chuva for mais suave e terna, quando as águas jorrarem alegria, para fazer alegres as folhas e flores e árvores, da floresta... Meu Deus, penso que isso vai acontecer quando a onça aprender a não querer se amarrar sempre nos mesmos cipós e ficar balançando feito chita... Isso não está certo. Onça não é macaca.. .onça sabe ir embora... e que alguém diga isso para o meu coração, por favor... porque ele é um coração meio ‘ignorante’.. ele não sabe nada de onça... só sabe de querer bem meu bem querer... a única coisa que me consola... é que, na sua demora, ele amadurece a partida e, quando dispara o movimento... aí sim.. me faz viver feito onça. De verdade. Está quase!.

quinta-feira, 31 de março de 2011

Quando os tempos se misturam...


Noite. Auditório da Universidade de Caxias do Sul. No palco, os alunos se apresentavam no Show de Talentos, do Curso de Comunicação Social. De vez em quando, alguém passava por mim e dizia o clássico: “E aí profe?”. Eu, então, pensei: eles já me reconhecem. Eu também os reconheço. Percebo que estou me integrando à paisagem, como alguém do lugar. Estou feliz com isso. MUITO. Naquele momento, me emocionei com a lembrança do período do Intercom, quando estive no mesmo auditório e ‘sonhei’ vir dar aula na UCS. Olhei em volta e me dei conta que os tempos se juntaram, como num passe de mágica.

Há alguns meses, eu estava no mesmo lugar e me imaginei como professora da UCS. Eu desejei isso. Eu desejei muito. Havia vários motivos. Não há como relatar aqui todos eles. Pra ser sincera, há ‘razões’ que nem eu mesma sei enunciar. Sei que há muito tempo uma substância desejante, em mim, se constituiu em direção ao interior – não só ao ‘meu interior’, mas a um lugar do interior do País. Foi se formando uma certeza de que seria necessário um deslocamento. Uma mudança física ‘de lugar’, para que mudassem, também, em mim, territórios cristalizados e que me faziam percorrer sempre os mesmos caminhos, me faziam buscar sempre as mesmas soluções. Chorar sempre as mesmas dores, esperar sempre as mesmas ‘alegrias’... repetir-me e não ‘reinventar-me’, como eu sabia, teoricamente, ser necessário. Pensava: “Isso não pode ser assim. Se não me traz alegria, não está certo’. Eu sabia que não podia, mas não conseguia sair do círculo vicioso, que me aprisionava. Estava ‘encaixada’ numa vida. Era difícil deslocar, desacomodar-me, ainda que houvesse uma sensação de incômodo, por estar tanto tempo no mesmo lugar. Em geral, não sou de me acomodar, me debato, luto, esperneio, até que consigo sair...

Sei que a sensação de que viria, um dia, dar aulas em Caxias do Sul não foi um ‘sonho’, foi um DESEJO. Nos 20 anos lecionando Comunicação e Psicologia, tenho dito que, se a pessoa ‘deseja um desejo bem desejado’, com consistência, ele tende a se realizar. Campos morfogenéticos (vale a pena procurar essa teoria...). Ocorreu, então, que havia em mim uma identificação com o lugar, uma vontade de ficar. Também naquela época, as condições eram desafiadoras. Eu não tinha do meu lado tudo o que eu queria, para estar ali. Era preciso ter paciência, lidar com a saudade, com as condições oferecidas pelo Universo. Eu sei desejar (ah... como eu sei!), mas há muita coisa na vida que não depende só do meu desejo... Mesmo sendo uma ‘doutora desejante’, preciso ser humilde e resignar-me ao que é maior: o Universo, Deus, os desejos e possibilidades das outras pessoas. Nesse sentido, eu também sei mudar o rumo da metralhadora de desejos. Assim faço, quando entendo ser necessário.

De qualquer forma, eu pressentia, como agora, que um território subjetivo se abria, pra mim. Havia a sinalização da potência, no sentido de mostrar o que eu mais sei fazer... para o que me preparei a vida inteira... para essa ‘lida cotidiana’ com os alunos, em busca de produção de momentos alegres, no processo de desencadear conhecimento vivido, intensa e amorosamente. É preciso deixar claro. Eu sempre amei os alunos. Eu amei também os alunos das outras universidades (penso que eles sabem disso), mas a diferença é que, por alguma razão, há uma energia, um conjunto de fatores que aqui sinalizam aberturas para a expressão, para a produção do meu jeito Malu(Ca)rdinale. Sou grata a todas as instituições que me acolheram, cada tempo vivido, cada história que vivi com alunos e colegas.. tudo me constituiu.. tudo me fez ser quem sou... mas agradeço a Deus e a tudo que me deu coragem para o movimento... para a mudança. Talvez sejam os sinais da roda tecida pelas moiras, descritas como espécie de deusas internas, que vão tecendo o destino e regendo as grandes guinadas da vida. Eu sinto que a vida mudou... pra melhor. Há brotação nas plantas de casa... assim como renasceram em mim alegrias passadas e há potência agenciada para o devir... o que deve vir... felicidade! Desejo isso para cada pessoa que amo e para você que lê este texto. Um beijo.

quinta-feira, 10 de março de 2011

Era uma vez, uma Ritella! Margherita! Margarida!




Ritella era uma menina ativa. Muito ativa. Dessas em que a vida pulsa o tempo todo e que têm a mente acionada sempre, veloz. Sempre inventando moda. A história da Ritella é uma das mais lindas que conheço. Eu vou contá-la aos poucos. Não há como contar tudo de uma vez. Muita história. Muita vida. Tudo intenso. Ritella vivia na Itália, no Sul da Itália, no século passado, nos anos de 1940. Ritella, então, viu a guerra, a triste e dura Segunda Guerra Mundial. Ela nasceu em 1941.

Na época, sua família foi se esconder nas montanhas. Nas terras do pai de Ritella. Foi lá que ela viveu os primeiros anos, em meio aos bombardeios, à correria de desespero, quando os alemães começavam a bombardear. Ritella uma vez escapou do esconderijo e saiu engatinhando. Quando sua mãe se deu por conta, ela já estava fora do alcance. E os aviões alemães começaram a baixar... barulhentos, para reiniciar o bombardeio. Ritella não sabia o que estava acontecendo. Mostrava apenas um traço seu, forte, esse de ir buscar o que quer, de não esperar.. de sair em busca de outros lugares. Ritella já era forte, decidida e ousada. Ritella também já era abençoada.

Vejam só o que aconteceu: os alemães jogaram uma bomba. A mãe de Ritella, desesperada, ajoelhou-se imediatamente e implorou a Santa Rita, que salvasse sua filha. Até então, ela se chamaria “Margherita!” (Margarida!). Não havia sido registrada ainda, por causa da guerra. Em tempo de guerra, as burocracias são postergadas. Todo mundo trata de tentar salvar a vida, ter alimento, literalmente, ‘sobreviver’. A mãe de Ritella prometeu que, se ela não morresse, ela se chamaria Rita, em homenagem à Santa Rita. A bomba não explodiu. Ritella esteve bem perto. Ela foi jogada perto de Ritella, mas não explodiu. Quando os alemães foram embora, no entanto, antes que a mãe de Ritella pudesse buscá-la, ela bateu a testa em algo e fez um pequeno machucado, que sangrou, de modo semelhante ao que as imagens de Santa Rita apresentam. Era como uma marca. Ritella ficou com o sinal, para sempre. Um sinal na testa, que parece confirmar que ela foi salva por Santa Rita. Praticamente nasceu de novo, a menina Ritella.

A menina foi crescendo ali, onde viu muitas, mas muitas cenas tristes. Guardou para sempre, por exemplo, a cena de uma senhora de idade, que decidiu ir buscar água para a família. A água do esconderijo havia terminado. Todos estavam com muita sede. Não havia água para nada. A senhora então disse que iria, que ela já era velha, que já tinha vivido muito. Ninguém queria que fosse. Mas ela decidiu ir, para o bem de todos. Foi, chegou a pegar a água, colocar na cabeça. Ritella lembra, com tristeza, de cena em que a senhora caminhava com dificuldade, mas feliz, por estar conseguindo. Enquanto isso, os aviões alemães sobrevoavam o lugar... era uma tensão muito grande. Todos acompanhavam apreensivos. Por alguns momentos, parecia que iam deixar a senhora voltar com a água. Quando ela estava se aproximando do local em que estavam protegidos, os alemães mataram a mulher, sob os olhos aterrorizados de todos, adultos e crianças. A guerra não poupa ninguém. A guerra tem requintes de crueldade que se imprimem nas memórias de todos, em níveis conscientes e inconscientes, a tal ponto que, mesmo depois de muitos anos, as cenas, as vivências voltam e doem.

Ritella sobreviveu, com a experiência da guerra servindo de alerta para que produzisse o amor ao próximo. Com o fim da guerra, ela voltou para sua cidade e ali vivia com sua família. A vida recomeçando em uma Itália pobre, mas criativa. Ritella muitas vezes fugia para as montanhas para apanhar cerejas, fruta pela qual ela se manteve sempre apaixonada. Nessas escapadas, vez por outra chegava em casa se esgueirando... se escondendo da mãe, porque voltava sem ‘alguma’ peça de roupa. Ritella sempre apanhava, quando isso acontecia. Sua mãe não levava em conta o seu argumento. Ela contava pra mãe que tinha dado a roupa de presente para uma outra menina que encontrara na montanha. Dizia (em italiano): “Mas mãe, eu tenho outras roupas aqui. A menina não tinha nada...”. A mãe dela não relevava... ficava furiosa. A mãe dela era muito brava...Não aceitava.

Bem, como eu disse, a história de Ritella vai longe. Hoje vou ficar por aqui. Só quero dizer mais uma coisa..Ritella era Margherita. Margherita significa Margarida, porque Margaridas Brancas eram as preferidas do pai de Ritella. Ritella é uma pessoa MUITO especial pra mim. A ela, eu devo nada mais, nada menos que minha vida. Ritella é Rita Cardinale, a adorável senhora minha mãe. Ela é a grande homenageada aqui, neste espaço Margaridas Brancas!, que tem este nome, por causa da Ritella, Margherita, Rita Cardinale!

terça-feira, 8 de março de 2011

Sebastião, para quem conhece...


Sempre que ele chega é uma alegria. É uma pessoa forte. De personalidade forte. Amigo, até debaixo d’água, sem meias palavras, desses que não poupam a gente, quando é necessário não poupar. Ele tem o que eu chamo de ‘o texto inteiro’. Abre a boca e diz. Sofre junto, eu vejo que sofre junto, quando as notícias não são boas, quando o que tem que dizer não é o que eu gostaria de ouvir. Os seus conselhos, contudo, são preciosos. Ele tem a visão de mundo mais ampla, é sábio, enxerga longe, literalmente. Por isso, eu sempre me alegro tanto quando ele diz: “Vai, tenta!” e, na mesma proporção, me entristeço, resignada, quando ele sinaliza algo que contraria a minha vontade: “Cai fora! Não vale a pena!”. Eu sei que não vale a pena insistir. Sua amizade incondicional, no entanto, é um bem imenso, uma graça divina.

Sebastião é uma pessoa rara. De fala simples e sábia. Eu me sinto verdadeiramente privilegiada por ser sua amiga. Apesar do jeito, ele nunca ‘manda’, mas ‘dá o texto’, você faz o que quiser. “O que eu vejo é isso, mas você é dona do seu nariz!”. Eu fico em dúvida, às vezes, acho que nem dona do meu nariz eu sou, mas isso não é culpa do Sebastião, mas do fato de que a vida não se faz sozinha. A vida é sempre entrelaçada em muitas outras vidas e, nesse sentido, a decisão que tomamos sempre tem implicações e depende do movimento de outras pessoas. Quando se tem filhos, então, isso é ainda mais complexo... porque são pessoas em ‘criação’, nossas maiores e mais delicadas ‘obras-primas’, que partilhamos humildemente com Deus. Meu Deus, como as coisas são difíceis às vezes! Não fosse a existência de amigos, como o Sebastião, seriam mais.

Outro dia, ele veio me visitar. Chegou como sempre, parecendo um trovão, com sua voz grossa. Eu vi que ele chegou meio contrariado. Parecia cansado. Meu amigo Sebastião também trabalha muito. Ele coordena uma equipe grande de pessoas que têm muita responsabilidade. Pela experiência que ele demonstra ter com os assuntos da vida, sua idade é incalculável. O mesmo não acontece com a aparência. Sebastião é um homem bonito, encantador, que não denota a idade que tem. Ao longo dos anos, tem suavizado a personalidade, demonstra cada vez mais sensibilidade com as coisas da vida, as emoções. Eu o conheço há mais de 30 anos.. não sei, já perdi as contas.. e vejo que ele melhorou como pessoa, como ser humano, também na sua dimensão espiritual. Antes, quando falava, parecia que estava sempre dando bronca. Bom, eu também era muito jovem... hoje, não é muito fácil me assustar.

De qualquer modo, a fala de Sebastião está mudada, embora talvez só quem o conheça entenda o que eu digo. Não, a fala dele não é morna. Ele é uma pessoa intensa e que não faz rodeios. Eu acho bom. Apesar da minha emocionalidade exagerada, já me dei conta que os homens que mais me encantam são os ‘brutos’, no sentido existencial. Homem com configuração ‘leão’. Já tentei me corrigir, mas, quando vejo, me apaixono pelo mesmo perfil... Certo, há uns que exageram e eu, mesmo leoa, acabo me distanciando, mas não é o jeito que incomoda, é o não trânsito entre situações, a falta de dosagem. Sebastião, não. Se tem que brigar, briga. Se tem que falar, fala. Se tem que elogiar, elogia. Mas, sempre, eu sempre sei que ele vai estar ali. Sebastião não abandona.

Sebastião é amigo de fé. Nossa amizade de anos, de muitos anos, permanece inalterada. Representa aquilo para o que eu venho chamando atenção, no sentido de que as pessoas precisam valorizar mais a amizade plena.... a amizade como laço que dá sustento à vida. A amizade incondicional. A amizade como entrelaçamento de vidas que transpõe existências... encarnações.. .a amizade que vai se constituindo na certeza de que o outro não rejeita, não quer mal, não abandona. Penso que uma amizade assim tem que estar na base no amor apaixonado, embora não seja necessariamente a mesma coisa. Sem essa base de amizade, o amor não vinga, porque não consegue sobreviver às intempéries tantas, que são inerentes à paixão, à convivência e ao medo (mesmo) de amar. Sebastião é meu amigo. E eu sou muito agradecida a Deus por isso.

domingo, 27 de fevereiro de 2011

Vida Pazza Comunicazione!



Que a vida nos leve, onde o coração estremece e, como uma prece, que possamos repetir a adoração e a confiança de que não estamos sozinhos. Seguimos o roteiro para o qual fomos chamados. Amor sem conta, Acolhimento mútuo. Produções de qualidade. Contribuir para aumentar a ternura e amorosidade no “Grande Ambiente Cósmico”....peço que todos se aliem nessa Rede de Afeto para o Bem Comum. Mais e mais amigos e Bem-Querer! Pazza Comunicazione (www.pazza.com.br) Beijos.

Amorosidades e investimentos desejantes

Meu tempo e minha intensidade eu dedico àqueles que me tocam de maneira especial, na ternura do abraço, na doçura do laço de afeto que nos une. Eu não gasto tempo, mas faço investimentos desejantes em pessoas que, pra mim, valem a pena. Gente que sabe rir, gente que sabe beijar, gente em que posso confiar e para quem me entrego como pessoa amorosa.

São diferentes os laços de afeto que me unem às pessoas. Todas têm um lugar especial, cada uma do seu jeito. Especiais dos especiais são alguns com quem minha alma se estremeceu, como se não fosse a primeira vez... como se a vida se reinventasse em potência mágica de um devir amoroso pleno e intenso mais duradouro, um substrato amoroso desses ‘tomara’ que a vida dure mais tempo, para eu ser feliz também por longa data.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

SAMBA QUE TE QUERO SEMPRE MAIS!

Compromisso com o samba! Com essa expressão eu fui ensinando meus filhos que, nós, brasileiros, sujeitos vivos e alegres, temos compromissos com o samba. O samba é, na verdade, uma filosofia de vida. Não fui eu que inventei isso. O samba é o movimento do corpo, regido pela pulsão interna do ritmo marcado pela percussão. Bah.. forte, atiçador de dentro. Samba é como tesão. Nas suas variações, vai existindo e mexendo com a gente e o resultado, se nos soltarmos, é gozo, prazer, alegria. Assim também é o samba! Por isso, sambar é muito bom!

“Quem não gosta de samba bom sujeito não é. É ruim da cabeça, ou doente do pé”. Penso que a frase é forte. Lida rapidamente, analisada como fala isolada talvez soe mal. Acredito, no entanto, que existem bons sujeitos que não sabem sambar. Sambar não é pra todo mundo, exige capacidade de requebrar e ousadia de mexer o quadril e coordenar o corpo na cadência ritmada do samba. Além disso, ainda há a coordenação entre as pernas que vibram, a respiração que oscila, a ginga que atiça, atiça...o samba provoca a sensação de vontade de sambar mais, mais e mais...Samba é, sem dúvida, sensual, muito sensual. Mas de uma sensualidade mestiça...de qualidade ímpar. Eu diria que saber sambar ...já é meio caminho andado, se é que me entendem.. risos.

Assim, gostar de samba faz diferença. Mesmo que o sujeito seja tímido, ainda não tenha desenvolvido o ‘molejo’ de sambista, ao ouvir o samba, ele sorri, altera os humores internos, consegue sentir a pulsação da percussão. Pulsa diferente, porque o samba ferve a gente, excita e relaxa ao mesmo tempo, produz alegria pela própria pulsação, pelo ‘processo’, eu diria (risos).. da ‘coisa’ em si...

Uma vez, numa praia italiana chamada Cesenático, ao ouvir o som da música brasileira em um bar, decidimos parar ali e acabamos começando a sambar. O bar começou a encher, porque os italianos ficaram encantados com o grupo sambando. Éramos dois adultos e duas crianças... Observei que eles ficavam encantandos com o movimento e a tranquilidade com que fazíamos isso. Sorriam... também atiçados...Em um determinado momento, um italiano mais ousado (quase uma redundância, porque, em geral, eles são ousados, deliciosamente ousados) veio conversar comigo. Elogiou, elogiou meus dotes de sambista e, depois, me perguntou quantos filhos eu já tinha...insinuando a relação entre samba e sexo... eu queria matar o italiano (na verdade não valia a pena, era um italiano lindo.. esse também é um traço do homem italiano.. há muuuuiitttooos homens lindos. Chega a ser um problema... risos...). Bom, mas na época eu estava casada.. meu marido ali sambando comigo e o tal italiano lindo me perguntando aquelas coisas...
Por fim.. eu entendi a relação... a lógica... a situação é que foi estranha.

Bom.. agora estamos em um tempo de samba à flor da pele. .em função da proximidade do carnaval.. eu continuo sambista.. com compromisso com samba... Vamos sambar???

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Encontro das Leoas Maiores


Maria Luiza: Olha só! Quanta honra! Dra Cardinale em pessoa, em carne e osso. Achei que ia voltar a dialogar com a Malu.

Dra Cardinale: Ela não está muito disposta para conversar com a senhora, nas atuais circunstâncias. Sabe bem que vem por aí um derrame de ironia e discurso, tipo: “Eu te disse! Eu te avisei!”. Outra coisa, a senhora sabe bem que sou a mais completa, minha constituição é a mistura de vocês. Então, vai cuidando a fala, porque estou com pouca paciência.

Maria Luiza: Leoa furiosa, de novo?!

Dra Cardinale: Não, pelo contrário. Estou ‘serena’, firme, determinada, focada, eu diria. Eu sinto tudo, tenho a intensidade da Malu, a emocionalidade da Luiza, mas sei bem o que fazer. Um tanto de racionalidade herdei da senhora, mas racionalidade retrabalhada, com inteligência emocional. Então, me poupa o sermão, porque não é o caso. Nem pra Malu seria...

Maria Luiza: Então, em que ponto estamos?

Dra Cardinale: No ponto de a senhora reconhecer que não sabe nada de Mitologia ou esqueceu, por conveniência, porque não gosta de alguns mitos, se apega sempre aos de luta, de conquistas, de vencer batalhas, como o do Jasão e o Velocino de Ouro, que é o seu preferido. O que se esquece é que a vida se constitui a partir dos quatro elementos e, portanto, a Malu está sendo coerente com uma de nossas forças motrizes, talvez a mais marcante, o nosso diferencial, o que é a nossa marca existencial.

Maria Luiza: Muito bonito discurso, mas esse traço de Psiquê em nós tem trazido mais problemas do que qualquer outra coisa. E a Malu é mais fogo do que água...

Dra Cardinale: A senhora sabe que não é assim. Os encontros com Eros sempre valeram uma vida, porque produziram uma intensidade que ecoa e permanece no tempo. Agora, cada ser humano é o resultado de sua dosagem dos quatro elementos: água, fogo, terra e ar. Somos o que somos, porque assim fomos forjadas. Por sorte, hoje, a descompensação do elemento água, na associação com o ar, dentro de nós, amenizou-se um pouco. Ter nascido libra, com lua em libra é uma complicação. Ainda é pouco, eu sei, mas a predominância do ascendente sagitário já resolveu alguma coisa. Aos poucos, chegamos lá. Estamos aqui para isso: aprender, amadurecer, com cada vivência, cada dia, cada relacionamento. O que vivemos até agora já o suficiente para a Malu entender que ela não está perdendo nada, porque, na verdade, não tinha, de fato. Tinha apenas o querer. Apesar do tempo, da intensidade, foi tudo sempre ‘quase’....

Malu: Peraí, deixa eu me meter. Dá licença. Prometi que não ia falar, mas assim não dá. Eu não inventei nada. Sei o que vivi. Sei no que me baseei para fazer meus ‘investimentos desejantes em busca da felicidade’. Tá.. entendi.. sei.. não se pode perder o que não se tem, de fato.. entendi.. sim Dra.. entendi...

Dra Cardinale: Sim, querida. Tal como Psiquê, você foi fiel aos seus sentimentos. Sua busca, seus investimentos são legítimos. Mas já é tempo de serenar.. de saber com quem se está vivendo, de viver amores de forma mais madura. Você sempre foi verdadeiramente intensa, mas somente em momentos especiais, com parceiros especiais consegue o que tem conseguido agora, saber o que está fazendo, o que pretende, porque pretende... saber ir adiante e recuar... até mesmo ir embora, como é o caso. Vejo que você está madura na expressão dos desejos e isso é raro e importante. Aprender a não desistir à toa, mas também não insistir mais que é recomendável. Saber finalizar com doçura, sem mágoa, sem nada, só amorosidade... esquecer a diferença..os dissabores.. só seguir em frente.

Malu: É. Eu só fiz amar!

Dra Cardinale: Isso não termina. Você sabe que não termina. Temos uma cristaleira da memória repleta de amores lindos, especiais, que nos fizeram felizes, enquanto estiveram conosco. Só mudamos o rumo, o jeito, a flexibilidade exagerada no laço amoroso, que mais entrega do que pede. Investimento desejante tem que ser cuidado, nesse sentido. Se não... descompensa.. não compensa...o mercado precisa de resultados.

Maria Luiza: Mas voltando à Mitologia.. estava achando interessante a análise da doutora...só que, que eu me lembre, Psiquê não segue adiante com essa tranquilidade toda. Ela sofre muito, pela reação de Eros.

Dra Cardinale: Em parte a senhora está certa. O que acontece é que Eros é lindo, é o Deus do Amor, é assediado e adorado pelas mulheres e envaidecido por tê-las assim, tão desejosas...Ele sente prazer em encantá-las com suas palavras doces e seu desempenho inigualável. Eros encanta as mulheres. Não é apenas um sedutor. Mas ele tem fortes laços com a mãe Afrodite, a Deusa da Beleza. Afrodite é apegada a Eros e, por isso, é tão complicada a aproximação de qualquer mulher mortal. Afrodite não aprovaria...ciúme de mãe. Eros não quer decepcionar a mãe. Ele não conseguiu matar Psiquê, que foi a recomendação dela. Apaixonou-se por Psiquê, mas isso não foi suficiente... pelo menos não até essa parte do mito. Eros fugiu, culpando Psiquê, pelo (parcial) desfecho. Nesse ponto do mito, não se sabe o que acontecerá. Psiquê fez o que lhe era de direito na sua condição de fêmea. Agora Psiquê segue sua viagem...

Maria Luiza: Segue triste, para os trabalhos aqueles...

Dra Cardinale: Olha, por isso eu digo que a senhora não compreende a Mitologia. Os mitos são matrizes narrativas existenciais. Praticamente tudo está ali, mas na lógica quântica dos tempos múltiplos, da espiral do tempo, existem atualizações. Psiquê não é mais a mesma, eu diria, pra ficar mais fácil de entender, embora tenha repetido matrizes narrativas. É do texto.. está no roteiro, mas ela vive agora sendo Psiquê contemporânea... ou Julieta...a Julieta dos dias atuais não optaria pela morte.. certamente não.

Maria Luiza: Mas então o quê? Segue como?

Dra Cardinale: Segue ‘pós-moderna’, se isto lhe diz alguma coisa, coerente com a mutação cósmica, atenta ao rumo e ao poder do Universo. Você viu a Malu hoje, em Caxias? Nada de tristeza. Ela comemorou em grande estilo a conquista, o fato de estar ali. É uma conquista profissional. Há muito ela queria isso. Depois, uma coisa é uma coisa. Outra coisa é outra coisa. Bem.. o mito não termina aí, embora este seja um ponto de finalização. Psiquê encara a sua verdade. Malu também.

Malu: Acho graça as duas filosofando sobre Psiquê, sobre os traços de Psiquê em Malu. Analisando, analisando... eu sigo vivendo, fazendo graça até mesmo da minha atrapalhação... quando ela surge...estratégia de sobrevivência básica: o humor. Conseguir rir de mim mesma já é um grande passo. Viram hoje? Vou me dar muito bem em Caxias. Me preparei para isso. Vou fazer o meu melhor! Me aguardem. Estou livre, leve e solta...estou feliz com a oportunidade.

Maria Luiza: Então não está triste?

Malu: Mas que obsessão! Pode ter certeza que não. Sou jornalista. A realidade é minha matéria. Gosto de enxergar claro o rumo do texto, os sujeitos das frases.. vivo aninhando as palavras para as pessoas. Preciso fazer isso pra mim também. “Cada um no seu cada qual’... como se diz. Quando faço uma pergunta, em uma entrevista ou na vida, estou preparada para a resposta. Antes de tudo, o que mais desejo é a resposta. Aí, apreendo os detalhes, os silêncios. Silêncio também é resposta, também é informação. Como eu sempre digo. A informação orienta, dá rumo, dá direção para as pessoas. E eu vivo disso, da informação inteira. Como vocês viram, meu primeiro dia de Caxias do Sul foi muito feliz! E vou fazer o possível para tornar felizes as pessoas a minha volta, com a qualidade do meu trabalho, a amorosidade pelo ser humano, com minha italianice a toda prova. Vou me dar bem, vocês vão ver....vou me dar bem!

Maria Luiza: Mas essa criatura, quando eu penso que ela vai desabar, ela salta como quem gira num samba, na ginga da brasilidade que também carrega, com orgulho, na força e graça italiana di ballare la tarantela.. e agora... ainda inventou de dançar flamenco! Durma com um barulho desses por dentro... risos....

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Encontro de Leoas 5



Maria Luiza: Malu, Maluzinha, Maluquinha do meu coração (já que não tenho outro)... me diz uma coisa: Você enlouqueceu de vez? Ou foi impressão minha?

Malu: Não....estou normal. Quer dizer, no meu normal.

Maria Luiza: Ah tá, entendi. Normal maluca de atar...isso! Entendi.

Malu: Não me incomoda. Fiz o que achei que tinha que fazer. Não sou mulher de ficar de braços cruzados. Eu sei, falo demais... eu sei, amo demais... eu tudo demais. Mas ultimamente ando sofrendo demais também. Então...perdido por um perdido por cinco. Tanto faz. Ao menos abro meu coração. Digo as coisas que penso, vislumbro possibilidades e, se não for assim, sigo em frente... não vou morrer.

Maria Luiza: Muito fácil falar. Eu já te disse. Você é impulsiva, tem que se controlar. Ser mais sensata. Tá ficando velha e não se apruma.

Malu: Velha é você! Eu sou de dentro a jovem adulta. Tem muita gente com aparência de jovem que não tem a energia que eu tenho.

Maria Luiza: Eu sei. Você é uma bomba humana!

Malu: Um vulcão. Seria mais apropriado chamar de um vulcão. Mas um vulcão de amorosidades, de energia boa, de coragem... de vontade de ser feliz. Minha vida está passando e eu sei bem que não estou aqui a passeio. Ou eu faço alguma coisa ou o tempo passa e vou ter que esperar a outra encarnação. Na brincadeira toda, já vão sete anos... é tempo demais...

Maria Luiza: Mas você tem que entender que existem os tempos dos outros... das outras pessoas. Nem todo mundo tem seu ritmo... decide e pronto.

Malu: Eu sei e isso é uma das coisas que me enlouquece. Não é fácil de lidar. Mas eu penso que cada um tem que fazer suas escolhas. Mas eu faço as minhas...investimentos desejantes em felicidade. Eu sei o que busco. Eu posso adaptar, ceder, mudar um pouco a direção, ajustar... sou flexível nesse sentido... só não vou deixar o tempo passar... ficar pensando ‘na morte da bezerra’... não tenho vocação para paralisar...a minha parte da vida eu quero em ALEGRIA!

Maria Luiza: Vichi.. hoje você está impossível! Não vai adiantar conversar. Quando você está assim, sai falando.. agindo.. depois eu é que me ralo....

Malu: Nem sempre. Às vezes, você também se dá bem. Olha, eu tenho a vida para recomeçar essa semana. Só isso. Fecho o livro. Começam as atividades em Caxias do Sul, na UCS, estou de volta para o trabalho em rádio, sigo coordenando filhos e funcionários, planejando e trabalhando na Pazza Comunicazione (www.pazza.com.br). Estou lutando para voltar para o karatê e já está acertado que esse ano inicio dançar flamenco, que é um dos meus sonhos... Criatura.. pensa bem.. acha que posso me fechar em dores?

Maria Luiza: Está bem. Está bem. Depois não diga que não avisei.

Malu: Dona Maria Luiza, eu aprendi uma coisa, se você quer algo, abre a boca e diz. O risco é não receber, mas o pior é ficar na ‘expecta’, na espera, dependurado na quimera, no quem dera.. e se fosse e se não fosse e se desse.. .ai Meu Deus... que a vida siga.. que tudo se defina...e eu seja feliz em Caxias do Sul.

Maria Luiza: Então tá.. eu silencio... pra variar.. você não me pergunta antes...nem depois. Não pergunta nada. Sente, derrama sentimento e sai vivendo.. vamos ver no que vai dar. Depois conversamos.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Moreno Claro

Lembro a beleza
de um moço moreno claro.
Seus olhos são doces, são ternos,
são olhos titubeantes...
são olhos de um claro moreno.
Queria dizer-te coisas,
mas o dia me atropela.
Quando o encontro em raros momentos,
brincamos, trocamos risos,
beijos, carinhos,
olhares morenos-claro
e depois...
nos amorenamos.

O Louco e a Solidão




Sai correndo do hospital, atravessa a rua – quase é atropelado – continua correndo na outra calçada, até que se choca com uma senhora de uns 60 anos mais ou menos – que vinha carregada de pacotes, pois acabara de sair do supermercado.

Com o incidente, ele parece ter adquirido uma calma, inexplicável enquanto a senhora se enfureceu completamente. Ele se levanta lentamente e se põe a olhar a senhora, que mal podia se por em pé de tanta raiva. Não dizia nada. A mulher esbravejava:

- Você não olha por onde anda? Olhe só o que fez. Todas as minhas compras... tudo. E nem ao menos me ajuda a pegar. Pior que isso, fica me olhando com essa cara de... de nada. Como é... não vai responder?

O louco não responde. Continua olhando a senhora que cada vez ficava mais nervosa. Depois de algum tempo, enquanto algumas pessoas que passavam resolveram ver o que tinha acontecido ou, mesmo, ajudar a recolher os pacotes, ele disse:

- A senhora sabe quem é o culpado da solidão no mundo?

A velha se indignou.

- Solidão? Isso é hora de falar em solidão?

- Solidão não tem hora dona, aparece. Assim como a senhora na minha frente. Assim... de repente. Aí parece que sempre esteve no mesmo lugar.

Ela interrompe.

- Quer parar de falar bobagem! Em vez de ficar aí falando todas essas bobeiras, por que não me ajuda a pegar esses chocolates que comprei para os meus netos?

- O culpado é o sol. Ele é o culpado da solidão do mundo. É um mal exemplo. O seu brilho... sozinho. É um mal exemplo. Se pudesse, eu terminava com ele. Com sua pompa.

- Olha aqui, rapaz. Eu não tenho tempo a perder com você. Vou andando, porque já estou atrasada.

Ela sai andando, procurando ajeitar novamente os pacotes. Ele muda de direção, para acompanhá-la, e continua falando ...

- Sabe, algumas pessoas são como ele. Acham que tem luz própria, que brilham por si, que não precisam de ninguém porque, sozinhas, já são o centro de tudo. Não tenho dúvidas, minha senhora, a culpa é dele. Do seu mal exemplo. O Sol...Grande coisa!!!!
Ela agora entra no assunto, mas tenta rebater os argumentos dele.

- Olha, acho que você, um rapaz tão moço, ainda não devia se preocupar tanto com a solidão. A gente só é sozinho quando quer. Veja meu caso....

- Justamente – interrompe o louco. O seu caso. É um caso típico de solidão não assumida. A senhora já pensou no quanto é sozinha?

- Eu?! Sozinha? Não. Você está enganado. Tenho meus filhos, meus netos. Meu marido não tenho mais, porque Deus levou, mas enquanto ele viveu fomos muito felizes.

Sempre fui muito amada. Não. Eu, sozinha, não. Os meus filhos, meus netos. Não.
Neste meio tempo, o sol que estava escondido por umas nuvens reaparece e o louco tem uma crise. Começa a gritar.

- Prendam-no! Prendam-no! Guardas, venham todos prendê-lo. Ele é o culpado deste crime terrível. É um mal exemplo.

As crianças não devem vê-lo mais. O mundo não pode continuar sendo um ninho de solidão.

Atirou-se no chão e continuou gritando, até que chegaram alguns atendentes do hospital e o levaram de volta. A mulher ficou estática durante algum tempo e depois seguiu para sua casa. Quando chegou, seu genro estava no portão e veio encontrá-la gritando.

- D. Maria, eu já falei pra Beti que nem pra ir no mercado a senhora presta mais. Demora duas horas. Não adianta, lugar de velho é dentro de casa.

A filha dela sai e continua o que o marido tinha começara.

- Será possível mãe? Faz um tempo enorme que estou esperando as comprar para fazer o jantar. O Carlos precisa sair. Será que a senhora só serve pra comer, dormir e fazer crochê?

Ela ouve tudo calada. Entra em casa. Senta no sofá da sala. Eles continuam a reclamar, até que ela interrompe.

- Vocês sabem quem é o responsável pela solidão do mundo?

- Que é isso mãe isso é hora de falar em solidão?

Ela abaixa a cabeça e responde – como quem aprendeu mais alguma coisa.

- Solidão não tem hora, aparece...

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Dor e Prazer: o Parto do Livro


A temática não é novidade, nos meus escritos. Há tempos escrevo sobre dor e prazer no processo de escrita. Essa é a temática da minha tese na USP, que me rendeu o título de doutora em Ciências da Comunicação. Quer dizer, é uma das coisas sobre as quais eu mais entendo. O que há de novo, então? De novo, o meu novo livro: Faço Parte! 30 anos. Histórias e Personagens do Sindicato dos Comerciários de Carazinho e Região. Um livro lindo, um livro realmente com muita história, com muitos personagens. Ele é resultado de um trabalho de quase nove meses, por coincidência ou não. Combina com a minha tese de que escrever um livro, uma obra como essas é quase como gerar um filho. As semelhanças são realmente muitas, sem dúvida.

Talvez, justamente por isso, eu esteja ainda sentindo as ‘dores do parto’. Sim, ele já nasceu. Está lindo, lindo, embora pouca gente o tenha visto. Ficou no ‘hospital-gráfica-encubadora’. Está sendo preparado para sair e ganhar o mundo. Um espetáculo a gestação e o nascimento de um livro. Só quem participa de um processo como esse, de forma dedicada, de imersão quase total, em vários períodos, reconhecendo a poética da combinação de tantas vidas, de tantas existências ali, consegue ter a dimensão do que estou dizendo.

Há também a questão técnica. O refinamento buscado em cada parte. Eu costumo dizer para meus alunos: “Em Comunicação, nada é detalhe! Tudo é fundamental!”. Então, chego a ser chata, meticulosa.Ali, no livro, nada é por acaso. Tudo foi pensado. Muito pensado. Muito mesmo. Provavelmente é por isso que minha cabeça esteja para estourar, desde ontem, quando deixei o livro na gráfica. Devem ser as ‘dores do parto do livro’. Eu estou toda doída e (mais que o normal) com a emoção alterada por vê-lo, assim, nascendo, com capa e tudo, as 152 páginas de cuidado. Bem, imagino que você deve estar pensando: ‘a Malu com emoção alterada mais que o normal.. isso é nitroglicerina pura! Vai explodir o mundo de emoção, então. Não sei o mundo. Espero que minha cabeça não estoure...tenho dúvidas!

A história desse livro é a do Sindicato dos Comerciários de Carazinho e Região e, de certa forma, é a minha própria história de jornalista ligada ao movimento sindical. Penso que resgatei a jornalista Maluca, em mim. Sim, eu sou jornalista de nascença. Sim, eu sou jornalista como matriz profissional. Amo esse meu ofício e tenho, sim, esse jeito jornalista de ser. Isso me põe Maluca na produção, acelerada e inquieta. Isso me dá uma força e uma aceleração de quem vibra com o que faz e sabe que, a qualquer momento, vai ser chamada para entrar ‘ao vivo’, porque é de vida que o jornalista se nutre. Vida dos outros. Nossa própria vida. Viva!!! Eu escrevi um artigo ano passado chamado Jornalismo Amoroso: Quem quer (a)provar? E exercitei a prática de Jornalismo e Amorosidade, na produção do livro.. muito.. muito...

Eu também entendi, mais que nunca, que meu ofício é contar histórias, as minhas e as suas, de cada um, de cada pessoa que se dispuser a me contar um belo causo. Os comerciários me receberam com um carinho sem par. Abriram o coração. Me receberam com alegria. Fui tudo sempre intenso e amoroso. Amizade verdadeira. Eu já chorei muito e sei que ainda vou chorar muito mais, com as lembranças desse tempo, desses quase nove meses de idas e vindas a Carazinho, dos encontros com a simplicidade e autenticidade de pessoas que vivem em um outro ritmo. Sim, eu sou apaixonada por eles. Sim, eu sou muito grata pela oportunidade que Deus me deu.

Quando iniciei ou trabalho, em julho do ano passado, eu estava vivendo um momento ainda muito doído, por conta de um problema pessoal de grande porte. Dores imensas, profundas, a vida em frangalhos, me esforçando para seguir adiante, continuar trabalhando, continuar tocando minha família, minha vida. O convite para o livro me mobilizou imediatamente, me deu alegria e as viagens praticamente semanais foram me ‘tratando’. A cada semana, chegar em Carazinho, encontrar a paz da cidade pequena, a praça, os amigos do Hotel San Remo, até a briga com os taxistas da cidade (bah... os taxistas da rodoviária são impossíveis, na sua maioria, eles não querem ligar o taxímetro. Semanalmente eu armava um briga, denunciei na prefeitura, reclamei... será que os caras não entendem que sou italiana e que não aceito pagar a mais, pelo que não é justo?), tudo foi montando uma rotina de vida ali...tudo foi montando a minha história em Carazinho.

Houve uma vez, logo no início, em que fui ao supermercado comprar lanche para a noite. Eu almoçava sempre no restaurante ao lado do Sindicato e à noite comprava uma fruta, iogurte, para um lanche rápido. Então, ao me dirigir ao supermercado, fiquei pensando o que comprar e me dei conta que, nos últimos anos, não tive muitas oportunidades de me preocupar com o que euzinha da Silva, quer dizer euzinha Cardinale Baptista queria comer. Na lida com os filhos, no meu jeito de mãe Malu eu acabo pensando em comprar isso pra um, isso pra outro.. aquilo pra outro... vou optando pelo gosto dos meus filhos... sem perceber. Mas ali, não, era só eu comigo mesma. Tinha que escolher lanche pra mim mesma, acho que pra menina Luiza. Então, de certa forma, Carazinho me presenteou comigo mesma.

Nas viagens, sem poder ler, eu pensava e organizava minha cabeça, olhando o verde, o sol, a noite...dormia e organizava os sonhos, sonhando meus sonhos mais sonhados... relembrando sonhos de antigamente, reafirmando outros que, teimosos, insistem em não se desgrudar de mim. Sonhos que se cristalizaram com o tempo no inconsciente e, vindos para a consciência, se transformaram em desejos. Eu tenho ainda, em mim, acionada a metralhadora de desejos de vida e sei bem para onde eles disparam. Nas viagens, retomei a clareza dos rumos dos investimentos desejantes e fui deixando que Deus me mostrasse, através dessa escrita outra, de vida, da minha vida, os caminhos a serem trilhados. Quero crer que estou na direção certa. Ainda não sei como Carazinho vai continuar entrando ‘nessa (minha) história’, mas quero muito descobrir...porque eu sei que a história não termina aqui. Pretendo seguir com as ‘rodas de amizade’, mas isso já é assunto para um outro texto...

Os últimos dias foram de dores mais intensas. Como numa gravidez biológica, foram dias e noites em que, ao se aproximar ‘a data de nascimento’, o filho esse não vai mais cabendo dentro da gente, vai se remexendo...e tudo dói. A emoção toda se altera e, mais sensíveis, nós, mães parideiras, sentimos a força da ambivalência materna que, ao mesmo tempo, quer que o filho nasça e nostalgicamente sente saudade do tempo da gestação (mesmo antes dele terminar), porque, nesse tempo, o filho (filho filho e filho livro), dentro de nós, ainda em produção, era só nosso. Mas filhos e livros são produzidos para ganharem o mundo. Assim está acontecendo com o meu “Faço Parte! 30 anos”... Dia 12 de março, será o lançamento oficial, em Carazinho, a apresentação pública, pela primeira vez.

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Tontice de Nascença


Uma das coisas que acontece é que não gosto que me façam de tonta, ou que pensem que estão me fazendo de tonta, porque, de tonta mesmo, eu tenho alguns traços, mas são raros. E mesmo esses traços são meus, assumidos, não é que alguém, fora de mim, tenha condições de provocar a minha tontice interna. Não. Eu já tenho isso instalado, configurado de nascença. Natural. Tontice de fábrica, digamos assim. Todo mundo tem um pouco. Até quem não se dá conta. Tem gente que pensa que não tem nada de tonto. Esses são os mais tontos. Esses aí às vezes perdem grandes oportunidades, empregos, projetos, amores, só porque não querem parecer tontos. Tontos!

Parece que à medida que nos relacionamos vamos ficando mais ressabiados com o risco que temos de nos tornarmos ‘tontos’ para os outros. Bobagem. Ser um pouco tonto, em algumas situações, por amor, por medo, por ansiedade ou qualquer outro sentimento humano é quase uma predestinação. É daquelas coisas que, quanto mais se teme, mais acontecem. Então, melhor relaxar. Deveria, inclusive existir um verbo. Não, eu sei. Existe o verbo tontear, mas não é disso que estou falando. Proponho, então, a criação do verbo ‘atontecer’, cujo significado seria ‘acontecer tonto ou tonta’. Assim: eu atonteço, tu atontece, ele atontece, nós atontecemos, vós atonteceis, eles atontecem. Pra mim, está bem, Infelizmente, eu ‘atonteço’ mais que gostaria, embora, como disse, esse ‘atontecimento’ seja produzido a partir de uma mobilização interna. Quer dizer, é acionado por mim mesma.

Claro que tenho tentado desconfigurar esse ‘programa interno’ de ‘atontecimento, mas isso não é nada fácil. Parece algo semelhante àqueles programas de acesso à internet, que recebíamos em casa, há algum tempo. Quem era louco de acreditar, instalava aquilo e depois morria tentando desinstalar. Bem.. eu não tenho como morrer, já expliquei isso em outro texto.... Então, sigo....tonta, mas por conta própria.

O chato mesmo é olhar em volta e perceber o quanto as pessoas se divertem, têm prazer, em achar que estão fazendo a gente de tonta. Acham que conseguem ‘enrolar’, acham que a gente não percebe. Putz! Eu fico realmente furiosa com isso. Ainda mais porque sei a minha mobilização para as pessoas, a minha orientação de acolhimento, de afeto verdadeiro, genuíno, de cuidado mútuo. Então, olhar para as cenas e entender, pelo detalhe, pela minúcia, que, por dentro, a pessoa está tentando te botar numa situação de ‘atontecimento’, pelo simples e bel prazer de tirar uma ‘vantagenzinha’. Mais doído ainda é quando acontece com alguém que a gente gosta.

Uma vez, uma pessoa me disse o seguinte: “Eu tenho uma arma contra você! O teu sentimento. Você gosta tanto de mim, que eu consigo tudo o que quero. Você não faz nada.” Era uma pessoa doente, que eu realmente amava muito (e ainda amo, em certo sentido). Tive que aprender a me defender ‘do meu próprio sentimento’, fortalecer o ‘eixo’ de mim mesma, para que essa pessoa fosse colocada no seu lugar, longe de mim, apesar do meu amor. Tive que aprender a abrir mão e a deixar claro que, na lista de prioridades, eu não estou no fim da fila. Fiz isso, continuo fazendo. Reconheço, no entanto, que algo de razão essa criatura tinha. Meu amor desmesurado, esse jeito de amor derramado, de entrega intensa, tem, por característica, me trazer problemas. Muita gente não valoriza isso e, mais, ao ser dar conta que está no terreno do substrato amoroso, se sente à vontade para fazer o que quiser, tratar de qualquer maneira, ‘des-cuidar’, tentar fazer (de) tonta. Isso é grave, para mim, mas eu percebo que não é só para mim. É uma pena!

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Leoa furiosa: Não se aproxime!


Hoje é um daqueles dias que tenho que tomar cuidado para não jogar tudo fora. Mas tudo mesmo. Quando preciso de algum texto, abro com cuidado as pastas, porque a sensação é que se eu me deparar com alguns arquivos, em especial, vai tudo pra lixeira...

Sabe, eu sou uma pessoa otimista, procuro enfrentar tudo sempre, de peito aberto, com coragem, mas há dias que a gente cansa... Hoje é o meu dia de cansar. Mas eu, como leoa, me canso de um jeito diferente. Fico brava, quando me canso, parece que fico girando na jaula, de um lado pra outro, produzindo sons de fúria de leoa. Bem, não preciso dizer, a recomendação, nesses casos, é: “Não se aproxime!”.

Um ser como eu não nasceu pra ficar quieta, parada, esperando, passivamente, que os outros seres se movimentem na floresta e façam sua parte. Eu quero estar junto. Na lida. Na linha de frente, participando, de alguma forma. Tá. Eu sei, isso é traço de controladora... mas também é de amiga, de gente que se entrega pra o que tem que ser feito. Às vezes, fico pensando que sou um ser antissocial, porque, se não tenho paciência para esperar que as criaturas outras se movimentem, é porque eu quero que se movimentem no ritmo que eu quero... bah... profissionalmente é de enlouquecer isso...pessoalmente também...

Gestão de pessoas, conviver, entender que o movimento não é só nosso, que dependemos (sempre dependemos) de muitas outras pessoas. Não há como fazer as coisas sozinho. Não há como ser feliz sozinho. Depois, reflito melhor, penso que não é tão dramático. Afinal, acho que pra antissocial eu não sirvo...sou educadora, empresária, estou rodeada de pessoas, amorosamente, em todos os sentidos. Não tenho do que reclamar, geralmente, só às vezes.

Tenho claro que minha impaciência com as pessoas é algo que está errado em mim. Então, tento me corrigir. Calmamente me convenço que cada um tem seu ritmo, que as pessoas têm outras ocupações, preocupações, que tal e tal e não sei quê.. mas quando vejo o tempo passando e as coisas não ficando prontas, como deveriam estar... Quando depois me dizem: “Ah, mas isso.. Ah.. mas aquilo”, tentando disparar a metralhadora de culpas ou ganhar tempo... eu penso que é melhor não falar nada. Se eu falar, vou brigar. Se não quero brigar.. não digo nada. Então, por outro lado, fico pensando, neste caso, que se eu não estou falando mais é porque já estou desistindo.

Na verdade, eu sou uma criatura muito brava. Minhas crianças dizem, umas para as outras: “Se você fizer isso, vai enfrentar fúria de Malu!”. Não é recomendável. Da série: Ministério da Saúde adverte: Fúria da Malu faz mal à saúde! Lógico, tento conter.. brinco... abstraio.. me concentro...mas chega um ponto que eu também desisto. Certo, esse ponto demora a chegar, porque minha amorosidade extrema faz com que eu persista calmamente, tente librianamente, de todas as maneiras, manter as histórias, profissionais e pessoais. Exercito isso, evito demitir, evito romper, evito terminar histórias. Tento aceitar as pessoas como são, na convivência, honrando o amor, a amorosidade, lembram? Faço isso na gestão profissional e das relações pessoais. Às vezes, fico em dúvida, penso que demoro mais do que deveria...mas é o meu jeito. Ajuda a ficar tranquila, depois, quando eu penso que fui até as últimas consequências. Só desisto, quando entendo que ‘é impossível’ continuar.