sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Quando...

Quando se lembrar de mim, sorria... mas não um riso qualquer...
Quero um riso de quem se solta nos braços do outro,
Seguro do afeto...pronto pra cócegas e agrados íntimos.
Quando se lembrar de mim, sinta teu corpo,
Como se eu o acariciasse lentamente, com minha boca...

Quando se lembrar de mim, reveja meus cachos
E sinta-os roçar na sua barriga, enquanto te encho de prazer...
Lembre dos nossos detalhes partilhados.. nossos cochichos,
Nossos gemidos...os silêncios.. Ah...os silêncios...
Lembra do tempo em que nos perdemos no tempo...
A sensação de re-conhecer-se na pele, no cheiro...

Quando se lembrar de mim, balbucie secretamente
Meu nome, como só você sabe dizer...
Ninguém me chama como você me chama
E o seu chamado está em mim ecoando...até agora,
Como uma voz de comando...
Como quem decide meu desejo,
Como quem sabe meus quereres...

Quando se lembrar de mim, saiba que não te esqueço,
E que tua lembrança, em mim, me ajuda a viver...

Sem palavras

Dessa vez, eu vou te amar sem dizer nada,
Em silêncio, como nunca fiz.
Meeu Deus! Mas essa criatura fala até na hora de fazer sexo?
Alguém vai perguntar.
Não importa, isso é uma poesia. Não é um texto de autocrítica.
Vou tentar de novo....

Dessa vez, vou te amar em silêncio.
Meeu Deus! Mas isso é a ode à submissão!
Ah.. assim não dá.
Mas que droga! Será que eu não consigo mais a paz
do lamento de um poema romântico?
Onde será que foi parar esse eu,
Que mais parecia um defeito de fabricação em mim?

Olha aí, não há mais salvação.
Nem mesmo a porção romântica de você
Suporta a chatice desse eu romântico.
Ele se foi. Sucumbiu!
Então, quem sabe eu faço um poema
Lamentando seu adeus?

Ai, meu Deus, mas que pieguice é essa,
que se desprega das profundezas desse ser tonta?
Tem coisa mais fora de moda que poema lamentando adeus?
Bem.. estar na moda também não está mais na moda...

Então, como eu ia dizendo...
Dessa vez, eu vou.....Ah, não. Eu não consigo!
Vou te amar e pronto.
Assim feito louca, do meu jeito,
Per farti impazzire di me (enlouquecer-se por mim).
Isso basta. Ou não?

O BEIJO DA ESCRITA

Eu escrevo como quem beija.
Um beijo longo, demorado, carinhoso.
Um beijo desses de língua.
A língua se movimenta lentamente
e me permite um gosto
ao mesmo tempo do outro
e de mim mesma.
Do outro que me encontra
neste texto
e do que há em mim que permite o encontro.

Eu escrevo como quem vive.
Assim, simples,
fazendo um texto de vida,
na vida.
Às vezes, penso,
afinal, que texto é esse que eu produzo?
Que vida é essa agenciada
pelo sabor das palavras compartilhadas,
sussurradas,
como um afago?

Quem é esse outro que me encontra
e quem sou esse eu mesma que se expressa,
que se entrega...
nesse delicioso beijo de língua?
Nesse movimento que, afinal,
eu mesma provoco?
O gosto vem do meu movimento mesmo
associado ao movimento do outro.

Quando escrevo eu me inscrevo.
Fica também o meu gosto
no gosto da língua do outro.
E isso me remete a não querer parar de escrever. Nunca.

SOGNO/ SONHO...

Ah..la pazzia di vivere senza fretta..
senza tempo giusto per arrivare a nessun posto..
soltanto per lasciarsi nelle braccia di un’amore vero...
(Ah.. a loucura de viver sem pressa..
sem tempo certo para chegar a nenhum lugar...
apenas para deixar-se nos braços de um amor verdadeiro...)

AMADORA

Amadora Amorosa
ama amo
ado oro
do sa
dor morosa
a ro
adora mos
orar amor.
Eu não entendo tudo.
Às vezes, eu não entendo nada.
Com o tempo, aprendi a não ficar tentando entender... só viver.

AMOR DERRAMADO

Inicio, como é próprio do meu iniciar...
Com o verbo amar...
Com o gosto do amor pelo que faço
Pelo encanto e intensidade do traço
De artista do cotidiano,
Viciada em Comunicação e poesia...

Não sou, é certo uma celebridade do amor.
Não sou apontada nas ruas como a que tudo sabe sobre o amor...
No amor, até hoje, mais errei que acertei...
Apaixonada pelo ser humano e seus mistérios
Sigo, então, assim amorosamente
Errante, desconhecida, incógnita....
Ser humano comum
Comum no jogo de amor e desamor.
Incomum, apenas na loucura
Pelo amoramar...
Pela sandice de declarar, aos quatro ventos....
Esse jeito irremediavelmente condenado ao amor sem conta...

Ando um tanto desesperançada com o humano, é verdade
Pela sua incapacidade mesma de amar,
De manifestar o amor nas suas múltiplas manifestações.
De se entregar despudoradamente ao amor que chega...
Que arrebata o peito feito casa arrombada...
Que atira o sujeito contra os rochedos
E o faz deslizar feito a água que desaparece
Por entre as pedras...
Depois da arrebentação....

Mas mesmo assim, não sei iniciar de outra maneira....
Só sei seguir adiante com esse amor derramado
Amor sem medidas, sem meias palavras...
Amor incontido...

O amor de que falo, no entanto, não é o amor piegas,
O amor romântico,
Aquele que significa anulação do ser que ama
Em função de um Outro amado...
Não.
Falo do amor que se espalha... como uma filosofia de vida...
Uma postura epistemológica.... nas múltiplas ações....


Então, não vá me dizer que é tarde...
Não vá me dizer Que pena!
Se for pra dizer isso, não me diga nada.
Mas se em você respira um tanto de desejo de viver e compreender o amor, de experenciar a doce e prazerosa vivência de amar,
Então, é melhor, se apressar... ajeite-se, apronte-se....me encontre. Malu Pazza

ACOR-DARES

De todos os acordares...
Os melhores foram os que nos acordamos,
revendo-nos, amando-nos, revivendo...
Remexendo, estremecendo...
Querendo-nos um ao outro...

De todos os amanheceres...
Os melhores foram os que amanhecemos
Um no outro, manhosamente,
Em que nos provocamos
E fomo-nos encaixando
Corpos desejantes sem palavras
e com tantos dizeres..
de seres “am-Antes”.

Quem sabe...

Quem sabe o amor não vem?
Inquietava-se todas as noites
Psiquê na sua esperança vã.


A doce presença de Eros
Nas noites em que ele aparecia
Preenchia também os
Momentos de ausência
Em que a saudade ela sentia.

O amor na sua emoção
No jogo do abraço,
Na confiança plena
Nos laços seguros de Eros
preenchiam também
Os momentos de
solidão.

DEZEMBRO É UM MÊS QUE NÃO EXISTE..

Tenho me convencido, cada vez mais, de uma ‘tese’ que elaborei sobre o final de ano. Primeiro, percebi o que chamei de Síndrome de Outubro. Acontece o seguinte: quando chegamos em outubro desencadeia-se uma espécie de enlouquecimento coletivo, porque as pessoas se dão conta de que o ano acabou, mas o ano não acabou de fato. Para o ano acabar, falta pouco tempo e muita coisa planejada por fazer. Inicia-se um jogo de avaliação e, conseqüentemente, culpas em relação ao que se planejou fazer, nesses 365 dias. “Não vai dar tempo!”. É a constatação óbvia. Depois, vem novembro, que é um mês que nos encontra em alto mar, estilo “Navio Negreiro” (“Stamos em pleno mar”, do Castro Alves, lembram?). E, por fim, dezembro, definitivamente, é um mês que não existe... não há mais o que fazer e, ao mesmo tempo, há tanto, tanto pra fazer, antes que cheguem as festas e tudo recomece...

A aceleração do dia, o esforço de sobrevivência, o confronto com uma espécie de triturador de subjetividades são marcas da contemporaneidade. As pessoas se encontram com aspecto de exaustão, estampado nas faces. Não há como esconder que o dia é insuficiente para as tarefas que se interpõem. Ritmos intensos de existências, que se acumulam, atropelam, interpenetram-se, tentando garantir um final de ano (e, claro, um ano novo) feliz. Tudo tem que ser impecável, tudo tem que ser finalizado...ao mesmo tempo em que sabemos que muito do que nos assola não há como se resolver até 31 de dezembro. Paciência.

Acrescenta-se a esse quadro - e, provavelmente, é causa dele - uma explosão de sentimentos, um jogo perverso de lembranças de outros finais de anos. Aciona-se um balanço que não é apenas do ano que finda, mas da existência ela mesma. Fica ecoando, ainda que tentamos sufocá-la, a pergunta: “Afinal, o que eu fiz da vida até agora?”. Mais que isso: “O que eu posso fazer daqui para diante?”. É uma espécie de zunido interno que perpassa nossos sonhos, nossos níveis internos dia e noite. Questionamento pouco é bobagem. Reviram-se as nossas grandes questões, as nossas maiores marcas, as mais fundas... renascem os desejos antigos, sendo que alguns nos assombram e nos culpam por não tê-los alcançado. É como se disséssemos para nós mesmos que podíamos, se tivéssemos realmente nos empenhado, ter atingido realizações que sentimos como fundamentais para sentirmo-nos felizes.

Perco-me, às vezes, em meio à turbulência do dia-a-dia, eu mesma, na sensação de viver a ficção de um mês que não existe. Viver em um espaço outro, que não o da realidade. Sim, porque não são raros os momentos em que é impossível acreditar no cotidiano. Não há como crer nas construções, situações, com as quais nos deparamos. É mais fácil se ausentar... ver-se como se estivesse em uma vitrine, recusar de sentir-se em meio ao turbilhão. Opto, então, por aquietar-me, deixar passar esse tempo de turbulência e de rituais de finalização. Procuro não levar tão a sério o dia e a substituição de calendários e, assim, busco um pouco mais de serenidade para viver as festas e, principalmente, para me preparar para recomeçar.

Sinto que estou me reinventando nesse recomeço...
estou feliz com isso!
Na “Economia dos Desejos e da Felicidade”
Desejo investimentos promissores para 2011!