sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Quando...

Quando se lembrar de mim, sorria... mas não um riso qualquer...
Quero um riso de quem se solta nos braços do outro,
Seguro do afeto...pronto pra cócegas e agrados íntimos.
Quando se lembrar de mim, sinta teu corpo,
Como se eu o acariciasse lentamente, com minha boca...

Quando se lembrar de mim, reveja meus cachos
E sinta-os roçar na sua barriga, enquanto te encho de prazer...
Lembre dos nossos detalhes partilhados.. nossos cochichos,
Nossos gemidos...os silêncios.. Ah...os silêncios...
Lembra do tempo em que nos perdemos no tempo...
A sensação de re-conhecer-se na pele, no cheiro...

Quando se lembrar de mim, balbucie secretamente
Meu nome, como só você sabe dizer...
Ninguém me chama como você me chama
E o seu chamado está em mim ecoando...até agora,
Como uma voz de comando...
Como quem decide meu desejo,
Como quem sabe meus quereres...

Quando se lembrar de mim, saiba que não te esqueço,
E que tua lembrança, em mim, me ajuda a viver...

Sem palavras

Dessa vez, eu vou te amar sem dizer nada,
Em silêncio, como nunca fiz.
Meeu Deus! Mas essa criatura fala até na hora de fazer sexo?
Alguém vai perguntar.
Não importa, isso é uma poesia. Não é um texto de autocrítica.
Vou tentar de novo....

Dessa vez, vou te amar em silêncio.
Meeu Deus! Mas isso é a ode à submissão!
Ah.. assim não dá.
Mas que droga! Será que eu não consigo mais a paz
do lamento de um poema romântico?
Onde será que foi parar esse eu,
Que mais parecia um defeito de fabricação em mim?

Olha aí, não há mais salvação.
Nem mesmo a porção romântica de você
Suporta a chatice desse eu romântico.
Ele se foi. Sucumbiu!
Então, quem sabe eu faço um poema
Lamentando seu adeus?

Ai, meu Deus, mas que pieguice é essa,
que se desprega das profundezas desse ser tonta?
Tem coisa mais fora de moda que poema lamentando adeus?
Bem.. estar na moda também não está mais na moda...

Então, como eu ia dizendo...
Dessa vez, eu vou.....Ah, não. Eu não consigo!
Vou te amar e pronto.
Assim feito louca, do meu jeito,
Per farti impazzire di me (enlouquecer-se por mim).
Isso basta. Ou não?

O BEIJO DA ESCRITA

Eu escrevo como quem beija.
Um beijo longo, demorado, carinhoso.
Um beijo desses de língua.
A língua se movimenta lentamente
e me permite um gosto
ao mesmo tempo do outro
e de mim mesma.
Do outro que me encontra
neste texto
e do que há em mim que permite o encontro.

Eu escrevo como quem vive.
Assim, simples,
fazendo um texto de vida,
na vida.
Às vezes, penso,
afinal, que texto é esse que eu produzo?
Que vida é essa agenciada
pelo sabor das palavras compartilhadas,
sussurradas,
como um afago?

Quem é esse outro que me encontra
e quem sou esse eu mesma que se expressa,
que se entrega...
nesse delicioso beijo de língua?
Nesse movimento que, afinal,
eu mesma provoco?
O gosto vem do meu movimento mesmo
associado ao movimento do outro.

Quando escrevo eu me inscrevo.
Fica também o meu gosto
no gosto da língua do outro.
E isso me remete a não querer parar de escrever. Nunca.

SOGNO/ SONHO...

Ah..la pazzia di vivere senza fretta..
senza tempo giusto per arrivare a nessun posto..
soltanto per lasciarsi nelle braccia di un’amore vero...
(Ah.. a loucura de viver sem pressa..
sem tempo certo para chegar a nenhum lugar...
apenas para deixar-se nos braços de um amor verdadeiro...)

AMADORA

Amadora Amorosa
ama amo
ado oro
do sa
dor morosa
a ro
adora mos
orar amor.
Eu não entendo tudo.
Às vezes, eu não entendo nada.
Com o tempo, aprendi a não ficar tentando entender... só viver.

AMOR DERRAMADO

Inicio, como é próprio do meu iniciar...
Com o verbo amar...
Com o gosto do amor pelo que faço
Pelo encanto e intensidade do traço
De artista do cotidiano,
Viciada em Comunicação e poesia...

Não sou, é certo uma celebridade do amor.
Não sou apontada nas ruas como a que tudo sabe sobre o amor...
No amor, até hoje, mais errei que acertei...
Apaixonada pelo ser humano e seus mistérios
Sigo, então, assim amorosamente
Errante, desconhecida, incógnita....
Ser humano comum
Comum no jogo de amor e desamor.
Incomum, apenas na loucura
Pelo amoramar...
Pela sandice de declarar, aos quatro ventos....
Esse jeito irremediavelmente condenado ao amor sem conta...

Ando um tanto desesperançada com o humano, é verdade
Pela sua incapacidade mesma de amar,
De manifestar o amor nas suas múltiplas manifestações.
De se entregar despudoradamente ao amor que chega...
Que arrebata o peito feito casa arrombada...
Que atira o sujeito contra os rochedos
E o faz deslizar feito a água que desaparece
Por entre as pedras...
Depois da arrebentação....

Mas mesmo assim, não sei iniciar de outra maneira....
Só sei seguir adiante com esse amor derramado
Amor sem medidas, sem meias palavras...
Amor incontido...

O amor de que falo, no entanto, não é o amor piegas,
O amor romântico,
Aquele que significa anulação do ser que ama
Em função de um Outro amado...
Não.
Falo do amor que se espalha... como uma filosofia de vida...
Uma postura epistemológica.... nas múltiplas ações....


Então, não vá me dizer que é tarde...
Não vá me dizer Que pena!
Se for pra dizer isso, não me diga nada.
Mas se em você respira um tanto de desejo de viver e compreender o amor, de experenciar a doce e prazerosa vivência de amar,
Então, é melhor, se apressar... ajeite-se, apronte-se....me encontre. Malu Pazza

ACOR-DARES

De todos os acordares...
Os melhores foram os que nos acordamos,
revendo-nos, amando-nos, revivendo...
Remexendo, estremecendo...
Querendo-nos um ao outro...

De todos os amanheceres...
Os melhores foram os que amanhecemos
Um no outro, manhosamente,
Em que nos provocamos
E fomo-nos encaixando
Corpos desejantes sem palavras
e com tantos dizeres..
de seres “am-Antes”.

Quem sabe...

Quem sabe o amor não vem?
Inquietava-se todas as noites
Psiquê na sua esperança vã.


A doce presença de Eros
Nas noites em que ele aparecia
Preenchia também os
Momentos de ausência
Em que a saudade ela sentia.

O amor na sua emoção
No jogo do abraço,
Na confiança plena
Nos laços seguros de Eros
preenchiam também
Os momentos de
solidão.

DEZEMBRO É UM MÊS QUE NÃO EXISTE..

Tenho me convencido, cada vez mais, de uma ‘tese’ que elaborei sobre o final de ano. Primeiro, percebi o que chamei de Síndrome de Outubro. Acontece o seguinte: quando chegamos em outubro desencadeia-se uma espécie de enlouquecimento coletivo, porque as pessoas se dão conta de que o ano acabou, mas o ano não acabou de fato. Para o ano acabar, falta pouco tempo e muita coisa planejada por fazer. Inicia-se um jogo de avaliação e, conseqüentemente, culpas em relação ao que se planejou fazer, nesses 365 dias. “Não vai dar tempo!”. É a constatação óbvia. Depois, vem novembro, que é um mês que nos encontra em alto mar, estilo “Navio Negreiro” (“Stamos em pleno mar”, do Castro Alves, lembram?). E, por fim, dezembro, definitivamente, é um mês que não existe... não há mais o que fazer e, ao mesmo tempo, há tanto, tanto pra fazer, antes que cheguem as festas e tudo recomece...

A aceleração do dia, o esforço de sobrevivência, o confronto com uma espécie de triturador de subjetividades são marcas da contemporaneidade. As pessoas se encontram com aspecto de exaustão, estampado nas faces. Não há como esconder que o dia é insuficiente para as tarefas que se interpõem. Ritmos intensos de existências, que se acumulam, atropelam, interpenetram-se, tentando garantir um final de ano (e, claro, um ano novo) feliz. Tudo tem que ser impecável, tudo tem que ser finalizado...ao mesmo tempo em que sabemos que muito do que nos assola não há como se resolver até 31 de dezembro. Paciência.

Acrescenta-se a esse quadro - e, provavelmente, é causa dele - uma explosão de sentimentos, um jogo perverso de lembranças de outros finais de anos. Aciona-se um balanço que não é apenas do ano que finda, mas da existência ela mesma. Fica ecoando, ainda que tentamos sufocá-la, a pergunta: “Afinal, o que eu fiz da vida até agora?”. Mais que isso: “O que eu posso fazer daqui para diante?”. É uma espécie de zunido interno que perpassa nossos sonhos, nossos níveis internos dia e noite. Questionamento pouco é bobagem. Reviram-se as nossas grandes questões, as nossas maiores marcas, as mais fundas... renascem os desejos antigos, sendo que alguns nos assombram e nos culpam por não tê-los alcançado. É como se disséssemos para nós mesmos que podíamos, se tivéssemos realmente nos empenhado, ter atingido realizações que sentimos como fundamentais para sentirmo-nos felizes.

Perco-me, às vezes, em meio à turbulência do dia-a-dia, eu mesma, na sensação de viver a ficção de um mês que não existe. Viver em um espaço outro, que não o da realidade. Sim, porque não são raros os momentos em que é impossível acreditar no cotidiano. Não há como crer nas construções, situações, com as quais nos deparamos. É mais fácil se ausentar... ver-se como se estivesse em uma vitrine, recusar de sentir-se em meio ao turbilhão. Opto, então, por aquietar-me, deixar passar esse tempo de turbulência e de rituais de finalização. Procuro não levar tão a sério o dia e a substituição de calendários e, assim, busco um pouco mais de serenidade para viver as festas e, principalmente, para me preparar para recomeçar.

Sinto que estou me reinventando nesse recomeço...
estou feliz com isso!
Na “Economia dos Desejos e da Felicidade”
Desejo investimentos promissores para 2011!

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Lição de Economia da Felicidade 2

A informação é sempre um bem. Um bem de grande valor. Onde não há informação, há imaginação... e isso nem sempre é bom. Pode levar a decisões equivocadas e a prejuízos grandes e duradouros.

Lição de Economia da Felicidade 1

Para tudo, na vida, é preciso CONFIANÇA. Este é um dos princípios básicos da Economia. Quando se pensa em mercado, se não há a confiança dos sujeitos econômicos, o mercado entra em crise. Diante da sensação de risco, os sujeitos deixam de investir, recuam, preferem guardar suas economias, reter o impulso de consumo e investimento. Desse modo, as relações de troca travam, o que também vai repercutir na geração de novos produtos, na continuidade dos processos de produção. É prejuízo certo e geral.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Conselho para minhas filhas: Na vida, o mais importante são as relações afetivas. Então, atenção:

- Não se entregue pouco. Seja sempre intensa. Se não, você corre o risco de perder o prazer do movimento e a graça do encontro com o Outro.


- Também não se entregue 'toda'.. se não, você corre o risco de perder o chão de si mesma.. e fica com a sensação de não ser como é, assim, única, inteira....

sábado, 31 de julho de 2010

Menina-moça-mulher

Gosto da lua, gosto do sol
Amanhece em mim
O gostar da tarde
E da noite sem fim.

Prefiro que gostem de mim
Sem noite, sem sol
Sem manhã...
Como eu sou... assim!

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Eu sei...

Eu não sou sempre coerente, tampouco constante.
Não sou sempre racional, mas também não mergulho
o tempo todo na passionalidade de antes....
Não sou linear, mas também não sou enroscada
nas tramas da complexidade...
Também sei ser simples às vezes...
Sinto, penso, cheiro, vivo, respiro...
Sou impulsiva em algumas situações;
Em outras, sou contida demais
- você sabe -
Digo “não quero”
E depois... “quero tudo”, “quero mais”...
Oscilo e me debato internamente
Com meus “cacos” existenciais.
Então às vezes esperneio,
Brigo, reclamo,
Faço ‘beiço’,
Peço colo,
Choramingo,
Esbravejo,
Apareço,
Desapareço...
Mas sempre.. isto sim....
Em todas as situações... com certeza...
ADORO VOCÊ!!!!!!

terça-feira, 6 de julho de 2010

AS SENHORAS E A MENINA QUE AMA(VA) A ESCRITA

Eu tinha acordado de noite e levantei cambaleante, como de praxe, sem saber, ao certo em que cama estava dormindo. Tenho passado os últimos anos da minha vida, vagueando de cama em cama ou dividindo a minha própria cama, com seres diversos. São seres pequeninos. Ao todo, são quatro. Dois meninos e duas meninas. Meus filhos. Eles parecem fazer um revezamento, na peregrinação noturna, em busca do colo da Mãe Malu. Sempre encontram. “Tive um pesadelo!”, me diz um com um beiço, de filho choramingando. “Estou com medo”, fala outro... “Mãe, posso ficar aqui só hoje?”, “Bruxas existem? Tem uma que quer me pegar...”. “Eu fiz xixi na cama...”.

São tantas frases que balbuciam nesses encontros noturnos, que eu já me acostumei com o ‘resultado’ do discurso. Aos poucos, vão se aconchegando na minha cama ou me pedem para ir para a deles, ou, ainda, me convidam para o sofá... Em tese, não devia, eu sei.. na prática, aceito sempre o convite e os acolho no abraço que, eu sei, não vai durar muito tempo. Um dia, eles vão embora. Espero que levem, na lembrança, o calor dos afagos e a certeza do afeto que tenho por eles.

Naquela noite, em seguida, dei-me conta que tinha adormecido no sofá, tentando fazer o Giuseppe, meu terceiro filho, dormir, depois de assistir ao Tom e Jerry, nosso desenho preferido. Acho que dormi antes dele, como não era raro acontecer. Então, ao acordar, levantei sob o efeito ‘boneco de mola’, de supetão e, talvez por isso, saí do sofá cambaleando. Fui para a Pazza e estranhei o fato de que as luzes, que eu havia deixado apagadas, estavam acesas. Estranho. Caminhei e, ao chegar na porta, avistei uma senhora sentada na minha cadeira, com o computador ligado. Esfreguei os olhos.... “Meu Deus, de onde saiu essa velha?”, pensei. Minha curiosidade infantil, associada ao meu traço de jornalista, me fez não julgar... resolvi reconhecer essa senhora que eu sentia como uma antiga conhecida.

Ela tinha os cabelos brancos brancos, puxados e presos num tímido ‘rabo-de-cavalo’. Sorria pra mim. Havia uma espécie de luz em sua testa. Os braços estavam um pouco à mostra, ela usava roupas antigas, de um tecido fino, como se fosse seda chinesa ou os delicados tecidos dos lenços italianos... curioso... “Quem é essa mulher, sentada no meu lugar?”. Estranhamente, também, isto não me incomodou. Normalmente, fico furiosa, quando alguém usa meu computador, quando mexe em minhas coisas, quando se aventuram, sem que eu saiba e concorde, em meus territórios existenciais. Naquela madrugada, não. Estava curiosa. Apenas isso.

Resolvi não perguntar diretamente quem era ela. Parecia quase uma heresia. Ela estava tão à vontade. Solta mesmo. Perguntei, então, o que ela estava fazendo? A senhora de cabelos brancos disse que estava se inteirando dos recursos da internet para se expressar melhor, para se aproximar das pessoas... Ai, estremeci.. como alguém com tanta idade pode pretender embrenhar-se na internet, para usar seus recursos. “Mas a senhora sabe lidar com a internet?”, perguntei. Ela sorriu e disse: “Eu sei, você deve estar estranhando. Eu sou muito velha, eu sei. Na verdade, sou muito mais velha do que você pensa. Tenho em mim grande parte da história da humanidade. Das cavernas da Mesopotâmia, entre os rios Tigre e Eufrates, passando pelo Egito, a China... a Fenícia...a Grécia.. ah..os gregos... Posso dizer que eles deram um outro sentido pra minha existência..”.

Eu, então, fiquei confusa. Certo, a senhora parecia ter bastante idade... parecia ser bem velha, embora demonstrasse extremo vigor... mas daí a ter conhecido os gregos... Ri sozinha.. Ela deve estar dizendo no sentido figurado... ou eu estou alucinando. A senhora continuou: “Eu já vivi muito. Ajudei a contar muitas histórias, pessoais e da humanidade. Nem me lembro de todas, mas as inscrevi em suportes diversos, da terracota, ao pergaminho, dos exercícios iniciais da prensa de Gutenberg a... agora.. os meandros dessa grande trama internacional.. a internet”.
Eu estava boquiaberta. Como poderia, aquela senhora, de jeito tão simples, vestimentas quase singelas... ter vivido tanta coisa. Afinal, quem era essa conhecida que eu, talvez por estar sonada, não reconhecia imediatamente. Ela seguia: “Eu contribui para acertos e desacertos. Estive em palácios e em becos onde se abrigavam foras-da-lei. Alguns aproveitaram a minha presença, para inscrever verdades, que afrontavam o poder. O mesmo poder que, em outras situações, me chamara para tecer inscrições que traziam propostas de controle... Me arrependo.. Eu também me prestei para trabalhos escusos... Não é essa minha razão de viver”.

Não me agüentava mais.. a cada palavra.. a cada movimentação da senhora, a cada gesto, eu me encantava mais e aumentava o sentimento que tinha sido desencadeado em mim... desde o momento que a vira.. ali, sozinha, no meu escritório... “Mas o que a senhora faz aqui, no meu escritório?”, não resisti. Ela, então, ficou séria e respondeu: “Há muito tempo estou aqui. Há muito que te acompanho. É que nunca tinha aparecido assim, em um corpo... mas você me conhece, bastante bem. Pelo menos, é uma entusiasta, cada vez que fala a meu respeito... parece ser empolgada com o que eu posso ajudar a construir.” Fiquei estarrecida. Não gosto de não me lembrar das pessoas. Em geral, não consigo resgatar bem a associação entre o nome e a imagem, mas esquecer, assim. Não, na prática, como já disse, eu tinha por ela uma sensação de reconhecimento. Não conseguia era juntar a imagem com a pessoa, com a ‘persona’... “Mas, que negócio é esse de não ter vindo em um corpo?”, fiquei matutando.

“Eu apareci para você, quando você era ainda muito criança. Foi teu irmão quem nos apresentou, aquele que agora é doutor em Educação. Ele também diz me apreciar... estamos sempre juntos. Você me encontrou em textos vários, primeiro em contos de princesas e príncipes, depois nos de Monteiro Lobato, José Mauro de Vasconcelos.. e assim, seguimos sempre juntas. Sempre que você queria me encontrar, fechava os olhos e fazia de conta que estava tirando uma grande pedra de cima de um buraco.. não propriamente um buraco, mas uma espécie de caverna. Era de onde eu sempre saía e ia passando para o papel.. livre, leve...feliz, por te reencontrar.. a menina que amava a escrita.”

Eu te acompanhei nas primeiras séries e me envaidecia porque você sempre buscava a minha companhia. Sempre estávamos juntas. Era como se eu fosse a sua melhor amiga. E melhor amiga, naquela idade é algo de grande valor! Seguimos sempre juntas. Uma vez, você recebeu um papel, com um texto de um egípcio, falando um pouco que a nossa história é mais antiga que esta tua vida aqui.. falando que há várias encarnações você vem trabalhando comigo”... Neste ponto, eu sentia algo estranho, era como se toda a minha vida (e não só essa) estivesse passando diante de mim e sendo ressignificada. Estava sendo sentida em estado ampliado, como se fosse a fala da senhora acionasse uma lente antiga e potente, através da qual eu me via, sempre às voltas com os livros, sempre pronta a escrever, inscrever-me. Eu, então, já sabia de quem se tratava... ao longo da minha vida, a escrita, essa velha senhora, de cabelos brancos, me ensinara a viver, me ajudara a me aventurar em relações, bilhetes amorosos, inscrições de ficção, pensamentos picados.. depois, textos a pedido, textos com relatos de vida, de acontecimentos.. textos das pesquisas. Nossa, tanta coisa passou na minha cabeça... um mundo.

Olhei mais uma vez para a senhora e lembrei-me das minhas duas avós. A avó com quem morei grande durante a infância e adolescência, e a nonna, uma italiana brava, mas plena e intensa, respeitosa e, ao mesmo tempo, cheia de suas manias. A primeira era analfabeta. Lembro que fiquei muito triste, quando fiquei sabendo disso e tentei ensiná-la um pouco. Ela já era bastante velha. Preferiu ficar na escrita do próprio nome, aprendizado do qual tinha grande orgulho. Saber desenhar as letras do próprio nome.. quanta diferença fazia para ela. Minha avó Zefa (como era chamada) era o exemplo de dedicação, a quem ela amava. Entrega plena, total, o que implicava, também, em uma demanda do mesmo nível.

A outra avó, a nonna, sabia escrever. Tinha vindo da Itália contra vontade, atrás do marido que viera 10 anos antes. Esta tinha um jeito aparentemente rígido, duro. Aprendi, com ela, no entanto, que há afeto também neste tipo de pessoa, e afeto imenso. Ela não se desmontava em declarações de amor, mas trazia a segurança do afeto, em mínimos gestos, no olhar, no riso, no convite para partilhar a sobremesa, que ela tinha guardado para quando um dos netos a visitasse. Preciosidades alimentícias. Sabores múltiplos diversos, de produções caseiras com receitas que ela não publicava... segredos de família (algumas ela me passou, em confidência). Naquele momento, então, percebi que a imagem da senhora era uma mistura das minhas duas avós – a avó e a nonna. Nesse encontro com a escrita, ela escolheu fundir duas pessoas muito importantes para mim, para constituir seu corpo visível.

Fiquei pensando que a escrita é, sim, uma mistura destes dois jeitos. Uma escrita que não sabe escrever, mas que sempre me deu tanto texto, tantas histórias contadas, cantadas, nas falas do cotidiano, que me ensinou a pronunciar palavras que compuseram meus traços de sujeito falante. Que reclamava das madrugadas em que eu passava, com os textos, mas, no outro dia, contava para os vizinhos que “A Luiza passou a noite lendo, essa menina”, orgulhosa. Uma escrita terna e dedicada. A outra, mais severa, mais exigente, vivia fazendo recomendações. “Colocava-se, às vezes, diante de mim, a me ensinar como se deve caminhar. Como uma italiana deve caminhar. E mais: qual a diferença entre o caminhar de uma italiana do sul, de Napoli, e de uma italiana do norte, mais elegante.”. Ela, do seu jeito, também me ensinou muita coisa. Eu não me prendia, no entanto, às suas exigências. Quando não concordava com alguma coisa, mas entendia que era importante para ela, dizia apenas: “sim, nonna, sim.. vou tentar”, e seguia vivendo, sem afrontá-la. Tentava conviver, porque a amava e amo ainda hoje.

Duas senhoras em uma: a imensidão de afetos, sem palavras arrumadas, ao lado do mundo das regras de convivência, de linguagem. Eu aprendi a conviver com as duas e a viver intensamente cada encontro... talvez seja isso que eu esteja tentando partilhar agora... busca da convivência pacífica com Dona Josefa Gonçalves e com a italiana Anna Caronti, ambas inscritas e vivas em mim, embora já tenham falecido, como corpo de um outro eu.

sábado, 8 de maio de 2010

EU SOU MÃE MALU-A

EU SOU MÃE.
EEEEUUUU SOOOUUUU MÃÃÃAAEEEE.
Euzinha, Dona Maria Luiza Cardinale Baptista,
tive a Graça Divina de, depois de quase 10 anos implorando a Deus... conseguir ser quatro vezes mãe.
Meu Deus, como eu sou feliz só de pensar isso!

Giulia, Pietro, Giuseppe e Chiara. Os quatro têm nomes italianos, para honrar minhas origens. Provavelmente, é da minha italianidade que vem esse traço de maternagem explícita, que me fez lutar contra um diagnóstico médico. Durante o tempo que passei tentando engravidar, o médico me dizia: “Maria Luiza, no teu caso, só um milagre”. Ele me explicava, pacientemente, as características da endometriose, uma doença que impede a gravidez, e lembrava que a minha possibilidade era mínima, porque os focos de endometriose eram muitos e severos... Ele chegou a sugerir que eu tentasse algum desses métodos novos, mais artificiais... Sua fala era clara e firme, sem deixar margens de dúvidas. Todas as vezes eu me entristecia muito, sofria muito com a explicação, mas, ao final, respondia: “Tudo bem, mas eu vou engravidar, pelo método convencional. É só uma questão de tempo.” Ele balançava a cabeça, como quem diz: “Ô italiana cabeça dura essa. Será que ela não vê que não adianta?”

Meu médico é uma sumidade no assunto. Doutor Francisco Cancian. Daqueles dedicados, obstinados, que visivelmente nasceram para o que fazem. Não havia dúvida. Estava sendo preciso no que dizia. Sabia o que estava falando. Ele demonstrava isso também, quando comentava os exames que denotavam o avanço da doença. Endometriose. A palavra soava para mim como uma sentença que eu não aceitava, que eu me negava a aceitar, porque havia, dentro de mim, uma outra verdade, um desejo do tamanho do mundo, de que um dia, alguém, um pequeno sujeito humano me olharia nos olhos e me diria a ‘palavra mágica’: mãe. Meu Deus, como seria possível, com tanto amor dentro de mim, não ter para quem entregar?

Eu olhava as mães nas ruas, nos parques, andando de mãos dadas com seus filhos. Outras vezes, elas os tinham no colo, soltos, entregues à segurança do abraço materno. Eram cenas de encantamento, diante da mágica do laço de afeto que une mães e filhos. Um afeto de intensidade imensa, assim como eu sempre soube produzir. Um jeito de se entregar pro outro, derramadamente, como eu sempre desejei, sem medo, sem reservas, só amar... assim como tem que ser. Ser mãe. Era isso o que eu queria e que o tal do diagnóstico dizia não ser possível.

O diagnóstico estava certo, bem feito, mas também era verdade minha determinação e a proporção gigantesca do meu desejo. Então, eu implorei a Deus, eu me debati, durante anos, fiz tudo o que havia para ser feito, exames, tratamentos. Foram muitas cenas duras vividas, de decepção diante da ilusão de estar grávida. Muitos exames negativos abertos com esperança. Muita lágrima. Muito choro, muito, muito, mas muito mesmo.

Essa realidade se transformou, quando entendi que havia uma condição que eu já vivia, que me dava imenso prazer e que se aproximava da experiência da maternidade. Era a relação com meus alunos. Eu sei, há diferenças, mas o processo de aprendizagem também é de extremo acolhimento e cuidado. Assim como na maternidade, somos desafiados a aprender a ‘dar colo’, sabendo que o colo é o que acolhe, protege, mas também limita. Delineia limites de ação, ao mesmo tempo em que, por isso mesmo, oferece a segurança. Colo protege e prende e, em seguida, quem dá colo tem que aprender a ver o outro se soltar, deixar ir, para vê-lo engatinhar, depois trôpego, dar os primeiros passos, levantar, cair, machucar-se, levantar. Aí olhar para trás e sorrir. Saber que mãe está ali, está aqui. Eu quis muito, durante muito tempo, esse lugar, ser esse ‘porto seguro’, essa ponte para o mundo, esse colo desejado, esse eu buscado, como quem diz: ‘Me dá o ar de novo? Me ensina a chorar e a rir do nada, pra nada... por nada. Só por estar junto. Só por te saber existir”.

Ao longo do tempo, eu fui lembrando cenas com os alunos. A alegria de vê-los ‘crescendo’ na profissão, avançando, transformando-se no processo de aprendizagem. Cada um a sua maneira, eles foram me ensinando, me transformando também. Vocês não têm noção a quantidade de recordações que tenho. Cenas singelas, momentos intensos, engraçados, difíceis, de necessidade de superação minha e de meus alunos. Sinto desejo, a essa altura dos acontecimentos, de relatar um pouco desses encontros vividos. Vou fazer isso nos próximos textos. Recortes de cenas da minha paixão pelos alunos...vêm aí.. aguardem!

Por hoje, venho agradecer aos meus alunos, por terem me ensinado que eu podia ser mãe, independente do diagnóstico. Eu aprendi que podia ser mãe, quando me dei conta que a relação que tinha com com eles já era uma maternagem, à italiana, meio dura, severa, exigente, mas uma maternagem. Foram, então, meus alunos que me ensinaram que eu podia ser uma mãe adotiva, que, se eu desejava, tanto assim, como eu desejava, ser mãe, eu poderia optar pela adoção, como uma possibilidade de concretização. Meu irmão, Toninho, que vive em Bolonha, Itália, também me disse, uma vez: “Cada um tem que decifrar seu próprio enigma. Este é o seu. Se você quer ser mãe mesmo, seja, do jeito que é possível ser”. Eu ouvi isso na minha viagem para a Itália. Quando voltei para o Brasil, decidi que ia adotar uma criança.

Adotei minha primeira filha, a Giulia, em 1996. Depois, em 1999, adotei o Pietro e o Giuseppe. Por fim, no ano de 2000, de volta de uma viagem a Cuba, onde fui apresentar dois trabalhos no ICOM, um encontro internacional de Comunicação, da Universidade de Havana, descobri que estava grávida – biologicamente grávida - de dois meses. Em 2001, nasceu a Chiara.

Hoje sou assim mãe Malu, com direito a pagar todos os micos, chorar em todos os espetáculos de dança da Giulia e até quando ela apenas comenta que vai fazer 15 anos em 2011. Do alto dessa minha maternagem ‘Maluca’, eu posso viver a alegria de ver a Chiara e o Peppe correndo na Unisinos, inventando brincadeiras, felizes, e me emocionar com a sofisticação da linguagem dos dois. Como diria o Peppe (10 anos): ‘metaforicamente falando’...ou a Chiara (8 anos): ‘Eu sei que o que eu disse é meio exótico’... Tão importante quanto tudo isso é o encontro intenso com o olhar do Pietro, minha ‘pedra preciosa’. Estamos mais próximos, estamos reinventando o caminho... Quando atendo o seu chamado e ouço seu canto, do seu jeito menino, me dizendo sorrindo: “Eu conto as horas pra poder te ver, mas o relógio está de mal comigo...”...eu sinto uma paz imensa dentro de mim e a concretização plena do meu sonho sonhado...eu sinto que tudo tem valido a pena, porque EU SOU MÃE. Obrigada Deus. Obrigada meus filhos. Obrigada meus alunos.

sábado, 6 de março de 2010

“Ahhhh! Eu te amo!”

Penso que todo mundo deveria ouvir um dia essa frase. Uma frase dita com gosto. Uma frase que, por si só, expressa a intensidade afetiva acionada no sujeito que produz e, ao mesmo tempo, a densidade do vínculo que está se estabelecendo. Uma frase que remete ao gosto, ao gozo, a uma espécie de explosão prazerosa. Não há, de fato, como descrever a dimensão do prazer de quem produz e tampouco de quem a ouve. Pra quem produz, é pleno gozo, desabafo de uma concentração de excitação, de espera pelo sabor do clímax. O sujeito que recebe a frase tem muitas possibilidades de reação.

Ao ouvi-la, eu emudeci. Inquietou-me, impressionou-me ter emudecido. Sim, porque no meu traço ‘romântica de plantão’ o normal teria sido compor com a frase e admitir sua aceitação e recíproca. Não foi isso que aconteceu. Como sou um ser voltado às explicações. Mergulhei em mim mesma, outro defeito de nascença. Interpelei-me: “Como você emudeceu diante de uma frase dessas?” Tentei argumentar pra mim mesma: “Bom, eu consegui responder com um riso de satisfação”. “Sim, era o mínimo. O mínimo contido”. “Era o possível”, respondi resignada. Fiquei pensando muito nisso, porque esse ‘possível’ indica uma grande alteração. Sinaliza um cuidado. Uma medida de cautela, quase que um programa novo, instalado sem que eu tivesse percebido e do qual ainda não tenho as informações sobre os comandos, as ferramentas. Percebo, apenas, a densidade da instalação.

Chama atenção, assim, que esse ‘programa’ tenha desencadeado, imediatamente, uma inquietação, um questionamento que não ousei formular ao meu ‘interlocutor’ (que termo mais formal para uma situação dessas, sic..!). Fico pensando que não ousei fazer a pergunta, porque, por um lado, ela parece absurda. Quem ouve uma frase assim tem que estar inteira em um contexto e compreender o que a produziu. Tem que estar entendendo seu ‘lócus’ de produção e seus agenciamentos. Claro, ela não surge do nada. Ela surge dos laços que vão se estabelecendo, se constituindo e, como laços, não são dispositivos unilaterais. Eles vão sendo tecidos na relação. Então, meu Deus, por que o questionamento?

Talvez ele seja resultado de marcas de envelhecimento/amadurecimento, de experiências passadas, que me levam à contradição de, por um lado, sempre ter esperado ouvir uma frase dita assim... desbragadamente e, por outro, entender que, apesar do sentido óbvio, ela pode ter outros planos de significação.

Uma possibilidade é que ela seja apenas uma ‘explosão momentânea’, circunstancial, sem a força geradora que a cristaliza na relação, que consolidaria “Ahhh! Eu te amo”, por um certo tempo, ao menos, o que justificaria a sua acolhida desmedida, despudoradamente, sem receios. Outra é que o meu ‘parceiro discursivo’, parceiro da intensidade afetiva, não tenha dimensionado bem a grandiosidade da fala. Sim, talvez ele não tenha se dado conta do que a frase traz como possibilidade de compreensão. Mais provável.

Há, nessas duas análises preliminares, uma pista que se insinua, que a da ‘síndrome da cautela amorosa’, quer dizer: eu não acredito, porque acreditar seria um risco muito grande. Seria permitir-me o lugar em uma viagem sem volta, um passeio pelo mundo da paixão que, junto com suas paisagens fascinantes, seus cheiros, seus aromas afrodisíacos, apresenta pedágios, onde tributos caríssimos têm que ser pagos. Custos do ofício de apaixonar-se. Impostos compulsórios de quem decide percorrer essas estradas do coração. “Meu Deus, tenho poucas economias nesse sentido. Percebo que andei abusando dos recursos. Eles estão meio escassos”.

Subitamente, em meio aos fluxos de pensamentos, uma voz interna me interrompe. É a da Malu, minha voz pouco sóbria, quando se trata de assuntos afetivos. Ela percebe, claramente, que quem escreve um texto assim é a Maria Luiza em mim: “Faz um favor, Maria Luiza, Luiza, Lui, vai pro raio que a parta, antes que me esqueça. Desce desse pedestal de organização, que não combina com a desordem interna deste ser e, nem mesmo, com os sentimentos que produziram a cena. Sai desse mundo do certo do errado, da cautela, do cuidado, porque você não consegue controlar o que vem da emoção. Joga no lixo esta tua capacidade-tendência analítica e responde o que devia ter sido dito na hora: “Ahhhhhh! Eu também te amo”.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

EU VENCI A EMBALAGEM DE ADOÇANTE

Ah.. estou realizada! Eu VENCI a embalagem de adoçante... quer dizer, consegui abrir... risos.. não entendo porque os fabricantes fazem isso. Se há uma coisa que não suporto é a inadequação de produtos às condições sociais contemporâneas. Traduzindo: já faz bastante tempo que existem famílias chefiadas por mulheres, famílias em que não há a presença, cotidiana, de um homem, com suas características todas e seus encantos e sua força.. bem... enfim... vocês sabem. Então, pergunto: por que as empresas insistem em produzir embalagens quase impossíveis de abrir?

Eu já tinha vivido embates com outras embalagens, há alguns tempos. Um deles foi com uma garrafa de refrigerante, dessas de dois litros. Eu tinha recém alugado meu primeiro apartamento. Isso já faz teeempoo. Ah..e o detalhe é que essas situações parecem jogar na nossa cara nossos limites e, mais ainda, ocorrem em momentos em que achamos que ‘nos bastamos’, que acreditamos (bem, eu não acredito mais) na auto-suficiência.. risos. Então, eu estava feliz com a ‘ousadia/coragem’ de alugar um apartamento, assumir a minha vida, os meus gastos... quando, de repente, ‘não mais que de repente’ (diria o poeta), me aparece (‘aparece’ é força de expressão, eu comprei... quer dizer, eu arrumei a encrenca) aquela garrafa de Guaraná. Enfim, na época, eu não consegui abrir a embalagem, pelo método convencional, mas usei um artifício do meu tempo de criança. (Atenção: ninguém pode rir.. ou pode.. sei lá..) Furei a tampa da embalagem e, assim, consegui tirar o ‘precioso líquido’.

Depois disso, lembro de situações com champanhas. Tá, mas aí é mais difícil mesmo... A vida toda, cada vez que vou abrir um champanha, eu me concentro, medito...quase rezo, para conseguir abrir, para que a pressão da tal garrafa não me impeça de beber a delícia que é...bem, vocês sabem. É uma bebida abençoada, eu diria... com morangos e boa companhia.. hum.. tá. .mudando de assunto...

A questão é que há alguns dias, comprei um adoçante, para repor aqui em casa e, ódio... não havia o que me fizesse conseguir abrir a tal da embalagem... Olha, penei... tentei ...fiz força, usei pano... molhei a tampa da embalagem...deixei um tempo descansando... parei... tentei de novo, ri de mim mesma, xinguei (podia ser que a tampa se ofendesse e saísse tirar satisfação) e n a d a...a tampa estava lá ‘imexível’ (atenção: está palavra existe. Está no VOLP). Fiquei indignada. Não admito que eu, uma mulher chefe de família, com quatro filhos, dona de uma empresa, karateca, professora universitária de Jornalismo, Publicidade e Propaganda, Relações Públicas, Secretariado Executivo, cursos de Educação e Humanização do SUS.. RISOS...tenha que me render a uma embalagem.

Certo que temos que reconhecer nossos limites.. tudo bem. Há momentos em que nossos atributos são insuficientes, para vencermos nossos desafios cotidianos. Quem me conhece sabe que, nos últimos anos, eu tenho enfrentado situações bem difíceis, em grande parte das vezes, tenho feito isso sozinha. Tenho tido que ‘ser forte’. Talvez por isso mesmo essa embalagem tenha me irritado tanto...

Num exercício de humildade, já tinha pensado em pedir ajuda. Claro, pra Deus já tinha pedido, mas me constrangi, porque peço muita coisa para Ele, todos os dias. Achei que era demais pedir para que me ajudasse a abrir a embalagem de adoçante. Sabe como é, né? A gente não pode abusar. Vai que Deus também se enche de mim... Não, dizem que ele não se enche nunca. Será? Acho que não, eu sou uma ‘pedinte’ profissional, digamos assim, para Deus, e até agora ele tem me atendido, em boa parte. A propósito, há umas ‘coisinhas’ que ando pedindo que ainda não aconteceram... tá.. depois eu retomo isso com Ele.

Então, como estava dizendo, hesitei em pedir ajuda, porque imaginei que pareceria ridículo, sair de casa, com o vidro de adoçante, procurar um policial e solicitar que ele o abrisse. Poderia parecer brincadeira ou, pior, ‘ desacato’. Vai saber, e se ele se ofendesse? Pensei em alternativas... os vizinhos, sim, poderia pedir para um vizinho, mas também seria esquisito. Eu moro sozinha com meus filhos. A vizinhança aqui do Bom Fim não está acostumada a me ver com ninguém (sou discreta com relação aos meus amores). Quer dizer, bater nos apartamentos vizinhos e pedir o marido emprestado para ‘abrir o adoçante’, poderia ser mal interpretado... risos... achei melhor não.

Enfim... depois de quatro dias, com o adoçante em casa, na cozinha, imponente, em cima do micro-ondas...sem poder usar, espremendo as últimas gotas das embalagens antigas, eu me concentrei e pensei que não poderia ceder. Tentei ... tentei... tentei.. e CONSEGUI. Fica, aqui, então... como ‘lição de vida’. Como sou uma criatura ‘metida a filosofias do cotidiano’, fico pensando que talvez isso seja uma metáfora, para eu não desistir de ‘adoçar a vida’. E vocês também. ...risos, risos e mais risos.... e beijos doces.